Bom gosto e respeito não custam nada

Pratos, talheres e copos nos lugares certos, nenhum exagero, música no volume e gosto corretos, comida em recipientes apropriados e arranjada de forma a fazer salivar os olhos antes da boca. Nenhum exagero, comida simples e feita com amor. É assim todos os dias, não importa o que venha a ser servido. Nem ingredientes caros, nem nomes sofisticados são necessários. Pode ser feijão com arroz ou uma prosaica macarronada caseira feita quase às pressas. Há dois ingredientes gratuitos que tornam isso possível: cuidado e respeito. Cuidado e respeito para com a comida, com quem vai comer e consigo mesmo.

Há uma diferença enorme entre deixar a panela no fogão e cada um achar suas ferramentas (é, não dá pra chamar de pratos e talheres se são usados como baldes e pás), servir-se como se estivesse carregando um caminhão de esterco e sentar em qualquer canto, e a primeira situação. Mas a diferença é de atitude, não de custo. Sim, a segunda pode piorar ainda mais: é só colocar a panela suja na mesa.

Quanto se gasta a mais ao arrumar um prato de salada de forma colorida e bonita ao invés de jogar tudo dentro de uma bacia plástica e levá-la à mesa? Quanto de tempo é investido em, por exemplo, acondicionar o arroz numa vasilha mais funda e de lá emborcá-lo sobre outra mais rasa, de forma a obter um formato diferente? Quantas eternidades e quantos milhões de reais são necessários para colocar um raminho de salsa em cima da maionese para que fique um pouco mais bonita? Basta um pequeníssimo esforço a mais para transformar uma gamela de pocilga em uma refeição gostosa e agregadora.

Há muita gente pobre e necessitada no mundo, mas, entre aqueles que não passam fome – e muito pelo contrário – há muitos mais que são paupérrimos de espírito e que não sabem agradecer pelo dom que receberam. Não é a toa que todas as religiões colocam algo de sagrado nas refeições. Comida é vida e a forma como a tratamos, assim tratamos a vida.

Não há quem não conheça alguém que, vendo uma mesa bem posta, pergunta: “Que frescura é essa?”, normalmente dando gargalhadas com a boca cheia de comida. Esse é um candidato com toda certeza de sucesso: candidato a corno.