VOCÊ JÁ VIU UM PÉ DE PÊRA...

     A insigne escritora Vera Fracaroli, linda e cativante, desafiou-me
perguntando se eu vira um pé de pêras. Eu, por acaso, tive o ensejo de ver uma frondosa pereira no sudoeste de Santa Catarina quando da
emancipação do Núcleo Colonial de Papuan, que recebeu o nome de município de TREZE TÍLIA.
    
     Resolvi escrever sobre o assunto, depositário de uma historia interessante, que despertará atenção dos nossos queridos leitores.

     A colonização de Papuã se deu pela imigração de austriacos, que
vieram tentar uma melhor vida no Brasil. À frente do grupo estava
o Ministro da Agricultura da Áustria, que ficou encantado pelo lugar, a fertilidade das terras e suas belezas naturais, aqui permaneceu,não
mais voltando ao seu país, mandando buscar sua mulher e filhos. E, todos trabalharam como colonos comuns, integrando-se às labutas
cotidianas do Núcleo.

     Mas a fatalidade fora madastra para o Ministro, numa grande
enchente que avassalou Papuan ele na tentativa de salvar uma ponte
de madeira, construida com grande dificuldade pela comunidade, foi
tragado pela caudalosa água que se formara no rio da localidade.

     O que de importante tem essa tragédia com a PEREIRA, é que
por ele fora plantada em frente à sua casa, graças a uma muda que
trouxera de sua terra natal. E, quando vi o pé de pêras a distância
era uma árvore frondosa, resplandescente no local, à medida que dela se aproximava a admiração crescia, carregada de frutos que estavam todos devidamente ensacados para evitar que insetos e pássaros deles se deliciassem antes do amadurecimento.

     A festividade de emancipação foi um excepcional acontecimento
com a participação de todos os colonos, vestidos a carater, nos trajes usados no Tiról, contou com as presenças do Embaixador da Áustria,do Governador de Santa Catarina e outras autoridades. A "bandinha" não parou um instante sequer de executar músicas típicas daquele país. O banquete servido com cerca de 60 iguarias finas, da culinária austriaca e nacional, uma infinidade de sobremesas surpreendentes, foi regado, inicialmente com vinho da colônia e depois chopp alí produzido, que mais tarde se tornara fanoso e apreciado como cerveja 3 Coroas. Na ocasião, nas conversas trocadas, foram lembradas algumas passagens significativas, entre elas, que o padre, capelão de todos os colonos, ministrava não só a religião católica como também a evangélica, indistintamente. Para ele convergiam as ações administrativas dos colonos, era o depositário de suas econômias, elaborava contratos com terceiros e os assinava, especialmente com as indústrias, redigia cartas e expedientes, servia
de PARTEIRO às senhoras grávidas, até quando foi construido um pequeno hospital de madeira para doze pacientes, que dispunha de todos os equipamentos médico e passou a ser dirigido por um facultativo, filho da localidade, mandado estudar em São Paulo, onde
veio a se formar. Apesar de madeira era de fato uma "belezinha", pelos caprichos decorativos...

     Não cheguei a conhecer pessoalmente o padre, por estar assistindo a uma parturiente em grave trabalho de gestação. Suas
atividades eram tão intensas que os colonos lhes dera um "jeep" novinho para poder se locomover.

     O milho produzido destinava-se exclusivamente à criação de
porcos, todos iguais, mesmo tamanho e peso, de pele branca, "ruivos", da raça "chester white", disputados pela grandes industrias
de comestíveis conhecidas.

     No banquete houve em certo momento grande preocupação com
uma das autoridades, que pelo seu entusiasmo se excedera no vinho
da colônia, assemelhado a um refresco de uvas, ingerido, dessa forma, com facilidade, ficara vermelho, semelhante a cor do tomate
e, insistentemente, dizia : OH! VINHOS DÁ MUITAS SEDE, NÃO ?
Logo depois ao chegar os canecões de chope, sorvia o delicioso líquido com a mesma avideza, para saciar a aflição da secura...
    
     Da famosa pêra, daquela copada árvore, saboreei dois macios e carnudos frutos, gentileza da idosa senhora do Ministro falecido. Não posso deixar esquecidas as saborosas uvas, tiradas diretamente
das parreiras com extremados cuidados por uma tesoura especial que
cortava os pequeninos galhos...



     À estimada Vera, aí está uma árvore de pêra que vira há 49 anos atrás, quando representando a União procedi a emancipação
do Núcleo Colonial, integrando-o à VIDEIRA, depois tranformado
no Município de TREZE TÍLIAS !!!





 ESTA É HOJE TREZE TILIAS...!