SENHOR VENTO

Eu quis falar com o vento certa vez. Não, não. A verdade é que eu falei com ele diversas vezes. Falei para ele como gosto tanto de você, até que parou de soprar. Ficou quietinho. Devia ter se acomodado ao meu lado. Devia ter ficado atento ao que eu dizia, às vezes soprava leve como parecendo interessado pelo assunto. Meu assunto é apenas você. É apenas uma mulher que eu amo tanto, disse para ele.

Lembro que uma vez eu o encontrei bem à noite. Uma noite cheia de estrelas no céu e brilhando intensamente Vênus que erroneamente achamos ser uma estrela como todas as outras. Ah, a lua cheia também estava a enfeitar o céu. Parecia uma noite alegre. Uma noite dos apaixonados e assim estava o meu próprio coração. Até que o vento me apareceu novamente. Lançou algumas folhas de árvores ao ar da pracinha lá embaixo e cá estava eu no terraço do prédio pensando no meu amor. E as folhas vinham embaladas e desciam. Passeavam o céu noturno e por fim deitavam ao chão meio gelado. E tão logo o vento veio bagunçando meu cabelo que já não é muito bom. Uma mistura de liso com crespo ornado pelo branco das caspas. Parecia meio revoltado o vento, mas não entendi o motivo. Pedi que se acalmasse. “Vamos conversar um pouco?” Ele se aquietou. Perguntei por que ele estava tão inquieto nesta noite maravilhosa, porém não obtive resposta. Entendo que ele é um eterno brincalhão. Enfim, fiz um pedido a ele. Chamei-o mais perto. De imediato ele se aproximou numa brisa serena. Eu disse bem pertinho que enviasse ao meu amor um “eu te amo”. Não sei se ele atendeu meu pedido. Atendeu?

E eu soprei tantas vezes dali murmuros de amor, palavras tão lindas. E também da minha janela fiz o mesmo. E por onde eu passo, sempre na companhia do senhor vento, meu amor por você é carregado e transportado pelas nuvens e pelo céu azul. Espero que chegue sempre até você, pelo mensageiro da natureza, o senhor vento, meus recadinhos de amor.