A Culpa é dos Outros.
A tendência é culpar tudo.
A bola, que não segue o chute.
Os erros dos outros, em detrimento de falhas suas.
O juiz que roubou.
Os políticos corruptos.
O shampoo “cabelos secos”, sendo que o correto seria “cabelos oleosos”, motivo de sua calvície.
A professora que não te dá notas altas.
O patrão que não te dá aumento.
Os donos dos sindicatos pelo aumento da tarifa.
O erotismo, por nossa lascívia.
O problema, por nosso vício.
O cansaço, por nossa desídia.
O fulano, pelo comentário da vida do beltrano.
A doença, por nossa vulnerabilidade.
A fraqueza, por nosso descaso.
O trabalho, por nosso descanso.
A inveja, por nossa incapacidade.
Culpa-se o rancor, justifica-se a omissão, a fraqueza. Justifica-se até a culpa, que não tem culpa de ser culpa. O crime, por falta de culpa.
Culpa-se tudo!
Culpa-se pai, avô, tio, padrinho, governo, sistema, padaria, o próximo, o mundo... Culpa-se até o Divino Espírito Santo por a vida ser assim.
Culpa-se e desculpa-se, todo dia, a toda hora, milhares de seres humanos se justificam em um canto, sozinhos, ou confessando, aos prantos, a culpa que porventura não tem desculpa. Esta sim é uma marca pesada na vida humana. Aquela que não deixa a consciência do indivíduo, o impedindo de sequer levar uma vida reta, muitos dos quais ainda acabam por se perder no mundo dos “paraísos artificiais”.
A culpa para ser boa tem de ser breve, suave e passageira, a qual sabe-se no fundo que não tem nada a ver. Com esta se sobrevive.
Porém e por fim é bom, antes de qualquer coisa, “dar três voltar ao redor de sua casa”.
Savok Onaitsirk, 23.06.10.