Banco de olhos

As pessoas se olham, mas não enxergam umas às outras. Vejo isso no ônibus. Cada um busca sentar no banco individual, o mais restrito possível e longe do olhar da pessoa ao lado. Os braços se cruzam negando qualquer interferência exterior, pois ali naquele banco onde só cabe um, é porque realmente nada nem ninguém mais é dono dali, apenas aquele que está sentado.

Os olhares às vezes se cruzam numa linha quase que retilínea, mas logo se desviam. Os olhares são repentinos e as pálpebras abaixam-se. Os olhares são "fios de pensamento". Eles olham...abaixam-se e então se pensa em algo, a respeito do olhar do próximo. Talvez um julgamento, uma simples imaginação sobre como é este outro ser que nos olhou...e arriscamos olhar novamente com aquele olhar disfarçado, mas não tímido...com aquele olhar curioso em busca de outros olhos. E quando se olham, se desviam novamente.

Há momentos em que todos os olhares parecem nos olhar. E nessa hora, nossos olhos, incapazes de desviar, pois em todos os lados existem olhos para nos olhar, simplesmente se fecham...até adormecerem solitários...solitários como aqueles bancos individuais que existem nos ônibus em que pego de vez em quando.

Paulo Hirami
Enviado por Paulo Hirami em 14/10/2010
Reeditado em 14/10/2010
Código do texto: T2557120
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