O COLÉGIO

Lembro-me bem da primeira vez que fui levada ao Colégio. Colégio São Paulo. Avenida Vieira Souto, 22, Ipanema, Rio de Janeiro.

Sobre o assunto não paira qualquer dúvida de que ninguém pediu a minha opinião. Naquele tempo os pais não davam satisfações de seus atos aos filhos. Determinavam o que se tinha de fazer e a gente obedecia sem questionar. Eu andava, já, pelos seis anos, portanto, era mais do que hora de começar a estudar.

Minha mãe, de comum acordo com suas relações de amizade, decidiu-se por esse que achou o mais adequado. Desconheço qual o critério adotado para a seleção, mas lá fui eu. E lá fiquei, sózinha, no meio de pessoas totalmente estranhas. Pouco faltou para que eu entrasse em pânico quando vi minha mãe saindo. A vergonha de chorar, porém, foi mais forte que o medo e aguentei firme. Afinal, raciocinei, serão somente umas poucas horas, passarão depressa. Mas como custaram!

Á medida que os anos passavam o colégio tornou-se parte integrante do meu cotidiano. Forçosamente teria que ser assim, pois eu passava muito mais tempo lá do que mesmo em casa. E acreditem gostava. Gostava não só das irmãs, como das colegas que durante todos aqueles anos foram companheiras assíduas.

Vocês sabem como é colégio de freiras. Tudo são desculpas para festas: seja em benefício de missões as mais estranhas, ou em comemoração de algum santo protetor. A Semana Santa, por exemplo, era motivo de regozijo: tínhamos de fazer retiro. Que delícia! Passávamos o dia no colégio - estudávamos um pouco de religião, líamos passagens sobre a vida dos santos e escutávamos estórias que as freiras sabiam contar como ninguém. É claro que havia muita reza e íamos à capela com frequência, mas esta era tão agradável e os sermões do Pe. Agostinho tão engraçados que o prazer sobrepujava o sacrifício. Aliás a ida à capela era considerada uma regalia e não um castigo.

Maio era outra época gostosa. Havia quermesse e apresentações de teatro no auditório. Os festejos de maio encerravam-se, muito pomposamente, com a coroação de Maria pelos anjos. Nunca fui anjo. Mas mesmo assim, jamais deixei de tomar parte na coroação. A capela, que era bem ampla, ficava repleta de alunas de todas as classes entoando cânticos e aguardando, impacientes, o "grand finale"

Nessa época, essa em que frequentei o "Colégio São Paulo das Religiosas Angélicas", eu residia em Botafogo. A casa em que eu morava foi posta à venda e, dada a impossibilidade de ser adquirida por meus pais, nos mudamos para Realengo, e deixei o colégio.

Começa, então, um novo período da minha vida - o da adolescência. Isso, porém, é assunto para uma outra ocasião.

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