Egito... Eu estive lá

Maria Antônia Canavezi Scarpa

O que escrever sobre um tema, uma paisagem, um lugar que se sonha conhecer? Levei dias procurando as palavras certas para descrever esta pequena odisséia, onde os soberanos eram Faraós. Falar do Egito, este País que beira o Mar Mediterrâneo, controla o Canal de Suez, nas suas águas nasce a flor mais linda e rara - a Flor de Lótus, tem o deserto do Saara e seus nômades, uma arte magistral, o mais extenso rio do mundo, o mesmo que Heródoto qualificou : - "O Egito é uma dádiva do Nilo".

Diante da suntuosidade das Pirâmides, emocionei-me ao abraçar com o olhar toda a sua magia e entender o porquê dos seus mistérios. Gizé fez-me sentir nas entranhas intensa emoção ao andar sobre sua areia quente, diante da Esfinge magnífica (um leão com feições humanas, esculpida numa única rocha), senti-me ínfima.

Montada num camelo, encantei-me frente à beleza de Miquerinos, Quéfren (a sua frente fica a monumental Esfinge) e Quéops (Khufu) o Faraó que iniciou a construção destas maravilhas. Na cidade de Menphis, ao passar minhas mãos na estátua gigantesca de Ramsés II, viajei na imaginação; senti estar navegando pelo Nilo na Barca de Amon-Rá, e num determinado momento aportar na antiga Tebas para visitar os mais lindos templos : Templo de Luxor construído por por Amenhotep III; Kom Ombo (dedicado ao deus com cabeça de crocodilo – Sobek); Karnak (Templo de Amon) e suas colunatas incríveis na Sala Hipostila; as maravilhas de Philaes (na Ilha Agilika) em Aswan; ou o Templo de Hórus, em Edfu.

No Museu do Cairo estão as mais lindas jóias e estátuas do Egito, parte das riquezas pessoais encontradas nos sarcófagos de Tutankamon, o faraó menino. É um esplendor sua máscara mortuária totalmente esculpida em ouro e pedras preciosas; há também uma réplica da pedra Roseta, fundamental para que os hieroglíficos fossem decifrados e contassem suas histórias. Curioso chegar ao Cairo, em pleno Ramadã, período sagrado para o povo Islâmico, obrigado a jejuar das seis da manhã às seis da tarde, sem beber uma gota de água, mesmo sob uma temperatura de um sol se aproximando aos 50º.

Há diferenças evidentes entre o antigo e o moderno, o trânsito enlouquecedor para o turista, ruas sujas, ladeadas por paisagens intrigantes ao declinarmos o olhar para o verde maravilhoso que margeia o Rio Nilo, estendido de um lado, aos poucos interagindo com o deserto pertencente ao deus Rá, abençoando este povo . Ambos dão vida ao lugar mais incomum por onde naveguei até chegar aos Núbios.

Acrescentei muito aos meus conhecimentos visitando seus templos magníficos, saciando-me neste imenso Oásis situado na África, soube mais de suas origens, os níveis de organização política e econômica, incomparável para qualquer civilização da época.

Briguei com minhas dificuldades, para entender a língua, seus costumes; somente assim soube respeitar e desmistificar seus hábitos na medida que explorei suas histórias, as mais antigas que ouvimos falar.

Temia ser assediada pelo seu povo, mas tudo transcorreu diferente, recebi muito mais que ofereci: calor e alegria, cada vez que identificavam meu sotaque, ouvia: - “Brasil, Brasil, Ronaldinho, Cafu...”. Barganhei muito para comprar meus *souvenires* no mercado Khan El Kalili. Deliciei-me, tudo era oferecido caro demais e foi uma aventura pechinchar. Eles falam alto e num tom rude que impressiona, mas depois descobri ser esse o jeito de ser deles para comercializarem os seus produtos. A pobreza deste povo oriundo da maior cultura humana impressiona, ainda que exista em cada olhar o afã de obter sua sobrevida nas vendas conjuntamente com o turismo, a grande parte da renda deste país.

Uma das mais lindas lendas que conheço, pertence a este Egito ímpar – A lenda do Deus Osíris e seu grande amor Ísis, com templo em Aswan - Philaes, dedicado a eles.

Precisaria de mais tempo para contar por etapas tudo que vivi e aprendi nesta minha breve estada no Egito, para ponderar cada visita aos seus sítios arqueológicos, para descrever que pisei firme no Vale dos Reis e das Rainhas, senti a força de Nefertari da grande e única mulher do faraó – Hatshepsut. Visitando estas necrópoles senti a presença de Seti I, Ramsés VI, Horemheb, Tutankamon, Tutmosis III, Mentuhotep, de Akenaton, que foi quem introduziu a adoração do deus sol a quem chamou de Aton e tantos outros. Difícil é recordar os nomes e os complexos que cada um representa. Afinal o Faraó era o chefe supremo que, embora humano, era um Deus para seus súditos, comandava tudo e todos, daí serem os seus templos venerados e preservados pelos seus asseclas.

Dobrei-me frente aos Colossos de Menon, intrigantes e altos; senti arrepios ao chegar ao Templo de Abu Simbel (meu grande sonho), encravado numa montanha, às margens da represa de Aswan, este que tem a marca suntuosa de Ramsés, no interior do templo existem belezas incríveis como quatro estátuas representando os deuses: Rá, Amon, Ptah e Ramsés ao seu lado nada menos inferior o Templo de Hator, a Rainha Nefertari, sua esposa favorita, e a deusa do amor, todo ele feito em arenito rosa.

Quando fui para Sakkara, conhecer as mastabas - a Pirâmide Escalonada do Rei Djeser, construída por Imhotep, ao sentar-me nas ruínas ao lado, tive a sensação de ouvir passos.

Aliei minha curiosidade à cultura que cada visita me proporcionava. Andei como há muito tempo não fazia em meu país, tive sede, fome, senti um calor escaldante formigando meus pés, porém foi maravilhoso o resultado deste sol se pondo no horizonte, em cima de uma Feluca vi refletidos seus raios nas águas do suntuoso Rio Nilo, ao se esconder no ocaso, para voltar outro dia ainda mais forte; nestas terras que vêem chuvas, dois ou três dias somente, em todo ano, sempre em pequenas quantidades, necessárias para lavar as folhas e as flores, que nascem abundantemente por toda a sua margem. E, ainda assim, a sua vegetação não será outonal, o que se aprecia é um verde exuberante, misturando-se aos mais lindos pés de tâmaras amarelas e vermelhas, que não sei se as verei em outro lugar.

Corre nas veias desse povo, um orgulho imenso, permitindo-nos ancorar nos mais antigos sítios arqueológicos do mundo, real mandatário das mais impressionantes relíquias descobertas pelos homens . Grande parte dos seus tesouros, estão hoje em museus de outros Países. Gostaria de poder encontrar palavras para descrever, sobre todas as obras faraônicas que tive a oportunidade de conhecer.

É bom recordar, os egípcios acreditavam que as pessoas não morriam se reencarnariam por isso as embalsamavam e as enterravam em grandes tumbas, com todos os seus pertences. Suas vísceras (fígado, pulmões, estômago e intestinos) eram retiradas e coletadas em quatro vasos Canopos, com tampas em forma de : homem, macaco, chacal e falcão, representando os Filhos de Horus (Deus dos Céus). Talvez estivessem com razão, porque em cada lugar por onde andei e passei a presença deles me pareceu eminente, causando-me arrepios.

Esta crônica esta inserida no livro “4ª Coletânea do Espaço Literário Sorocult”

http://www.sorocult.com/el/livros_g.php

Tília Cheirosa
Enviado por Tília Cheirosa em 16/10/2010
Reeditado em 17/10/2010
Código do texto: T2561042
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