O ENXAME DE CASSUNUNGAS

Ignácio

Primeiramente quero parabenizá-lo pelo lançamento de mais esse seu trabalho: livro sobre Ruth Cardoso, em que a escolha do seu nome para tal empreendimento não poderia mais pertinente e justa.

Aqui vai um trabalho meu, baseado em um dos inúmeros relatos de meu pai, sobre parentes nossos que lidavam com cobras e outros animais peçonhentos.

Pretendo, enquanto ainda há tempo, reunir esses "causos" num livro. Não o fiz ainda por falta de recur$o$ para arriscar uma edição paga.

Gostaria de contar com seu aconselhamento sobre o assunto.

Tenho a impressão de que nossa família apreciaria muito essa iniciativa,

Desde já grato e

Abração

Adolpho

Adolpho J. Machado

Manoel, teu tio virá aqui na fazenda para retirar os marimbondos que invadiram a casa do moinho, disse meu avô a meu pai, num domingo de manhã.

Esse tio do meu pai era um dos irmãos de vovô que “benzia” vítimas de picadas de bichos peçonhentos. Na época, em cada grupo familiar dos

Machado havia sempre um membro que, iniciado por um ancestral, passava a ministrar essas curas e a “comandar” essa espécie de animais.

Assim que chegou o tio, meu pai foi recebê-lo para transmitir-lhe os pormenores do que deveria ser executado e entregar-lhe as ferramentas que seriam necessárias para o serviço. Estas constituíam de um enxadão e uma pá.

Vou precisar de sua ajuda Manoel, disse-lhe o tio. Vou cortando com o enxadão e você vai retirando os blocos de favos, da casa do moinho, com a pá.

Antes, porém, quero saber se você terá coragem de enfrentar os bichinhos que, sem dúvida, virão pra cima de nós, ao mexermos com eles.

- Claro que sim, tio. Na sua presença eu tenho certeza de que nada me acontecerá.

Então, mãos à obra, disse o tio.

Cada golpe das ferramentas provocava a formação de uma nuvem negra de insetos, que se intensificava com o avanço da destruição da casa deles. O forte zumbido também aumentava rapidamente.

O tio ia empurrando os pedaços na direção do meu pai que os apanhava com a pá, atirando-os na correnteza.

Algum tempo depois de iniciados os trabalhos meu pai sentiu que uma vespa enroscou em sua barba. Imediatamente ele apontou o inseto, chamando a atenção do tio que veio até ele, esmigalhou o bichinho entre os dedos, exclamando: Este, estava querendo me desobedecer!

Adolpho José Machado
Enviado por Adolpho José Machado em 18/10/2010
Código do texto: T2562975