O Chile é só poesia, ou sou eu que vejo assim?
              Na verdade, calçadas, praças, casas, tudo me remete á poesia. Me planto num bando de praça, linda de morrer ou de viver, e, obeservo os passantes. São mulheres lindas, incrível, quase todas de preto, o que as torna extremamente elegantes. Uma maquiagem pesada, sempre presente nos rostos, não consegue esconder a beleza que trazem. E, o andar rápido, sobre os saltos altos, me chama atenção. Estão sempre apressadas e passam como se não vissem a praça...eu. Os homens...ah, os homens. Todos se parecem, ou me parece que se parecem. São lindos, as maçãs dos rostos proeminentes lhes dão um ar másculo. Seus sobretudos escuros dão um ar de sobriedade. E, vão e vêem como se estivessem sempre atrasados. Nada lembra nossa malemolência brasileira, nada de nossa alegria descompromissada.
           Mas, essa aparente frieza ruiu no dia que os mineiros foram soterrados. E, quando eles começaram a ser resgatados, eu estava lá. Jamais assistí algo parecido. A euforia era coletiva. Todos eram pais, irmaõs ou filhos dos mineiros. No entanto, sabe-se que a mina São José, já havia sido fechada por representar muito perigo. Lá havia o melhor cobre a mais pura prata. Os que alí estavam, enfrentaram o perigo conscientes do que poderia ocorrer. Mas, alguns foram por pura adrenalina, outros por vontade de desafiar o perigo, mas todos pelo alto dinheiro oferecido pelos donos da mina. Nenhum foi enganado. Todos tinham treinamento para enfrentar tudo que enfrentaram. Apenas um, o mecanico, estava alí, por acaso.
          Foram dias de desespero para os familiares que ficaram fora, e maior ainda para eles que durante dezesete dias nem sabiam se seriam resgatados. Enfim, comoveram o mundo. Conseguiram unir milhões de pessoas de torno deles. Conseguiram denunciar ao mundo a precária situação em que vivem os mineiros chilenos. Uma denúncia viva. Um pedido de socorro eloqüente. Uma esperança para os outros que continuarão a cavar o chão em busca de riqueza.
         Mas, o que mais me deixou espantada foi a maneira como o povo chileno reagiu. Em todas as ruas, pessoas comemoravam. Eram mulheres trazendo comida, homens trazendo bebida para partilhar com ex desconhecidos. Agora, eram todos uma grande família. E, os abraços se sucediam, os beijos aconteciam. Lágrimas eram partilhadas. Desconhecidos se tornando irmãos. Logo fui contaminada, e lá estava eu a chorar e participar vivamente da euforia e felicidade deles.
        Todos sabiam os nomes, a vida, e até intimidades dos mineiros. E, lógico, havia uma história de amor...Durante 15 anos, Juan foi casado, pai de família, tudo de acordo com as leis. Só que ele tinha outro amor, um amor há 5 anos, bem maior. E, na hora da escolha fatal, o novo amor falou mais alto e foi a escolhida por ele para recepcioná-lo. Estava descoberta a traição. Venceu o amor.
         Bem, não são mais mineiros, são atores de cinema, personagens de livros e donos de uma pequena fortuna que os fará mudar de vida. Os que continuarem nessa luta saberão que o mundo fiscalizará a segurança.
         Terá valido o sofrimento?