ESPERE ATÉ MARTIN CHEGAR

Parece curioso, mas havia uma casa mal-assombrada no fim de uma rua em uma cidadezinha do interior.

A dita casa não era habitada por ninguém, é claro. As pessoas não se animavam a passar nem uma noite ali, quanto mais morar. Cer¬ta vez dois "corajosos" tentaram permanecer na casa; entra¬ram rindo, brincando, mas saíram como dois furacões, só parando quando já estavam longe.

Uma noite, chovia a cântaros sobre a cidade. O homem vinha pela rua com a água a escorrer do chapéu, sem guarda-chuva nem nada. O frio estava terrível, a escuridão não dei¬xava ver um palmo adiante do nariz. Quando viu a casa aban¬donada no fim da rua, parou.

— Dizem que é mal-assombrada — falou ele com seus botões. — Ora, isso não existe! Vou entrar um pouco e espe¬rar que o aguaceiro passe.

Empurrou a porta lentamente e entrou. Acendendo um fósforo, espiou à sua volta. Ao ver um prego, pendurou ali seu casaco molhado, resolvendo também acender a boa larei¬ra que havia.

Puxou então uma confortável poltrona para junto do fo¬go, tirou um livro do bolso e, muito bem instalado, começou a ler.

Lá fora, a tempestade continuava. Cada trovão de assus¬tar até surdo. As janelas estremeciam com o vento. Mas o ho¬mem, entretanto, permanecia bem quentinho, sentado perto da lareira, deliciando-se com o livro.

De repente, algo chamou a sua atenção. Levantou a ca¬beça e viu um pequeno gato cinzento, bem diante do fogo. "Estranho! Não sei como não vi esse gato chegar", pensou ele. E voltou a ler, ajeitando-se melhor na poltrona.

Poucos momentos depois, a porta rangeu de leve. O ho¬mem olhou e viu um grande gato preto, entrando de mansinho.

O gatinho se aproximou do gato recém-chegado e lhe perguntou:

— O que vamos fazer com ele?

— Espere até Martin chegar — foi a resposta.

O homem, espantadíssimo, olhava para os dois bichanos com o canto do olho. E pensava: “Acho que esse ‘ele’ sou eu. O que será que estão tramando?"

Logo em seguida, a porta se abriu de novo e um gato ma¬lhado do tamanho de um cachorro entrou na sala.

— O que vamos fazer com ele? — perguntou, dirigindo-se aos outros dois gatos, com os olhos brilhantes.

— Espere até Martin chegar — responderam os dois. O homem já estava totalmente apavorado. Contudo, achou melhor fingir que nada estava percebendo. Suas mãos pare¬ciam gelatina, de tanto que tremiam.

Passou-se um minuto. A porta moveu-se novamente. “Outro.”, pensou o homem. E pensou certo: um majestoso gato castanho, grande como um cabrito, avançou sala adentro.

— Nossa senhora! — exclamou o homem baixinho. — Se ainda por cima estão aumentando de tamanho, o próximo será um verdadeiro elefante.

O grande gato castanho chegou até seus companheiros e perguntou, olhando fixo para o homem:

— Vamos fazer o negócio agora?

— Espere até Martin chegar — responderam os outros. Ouvindo isso, o homem não resistiu. Deu um pulo da cadeira e saltou pela janela, desandando a correr rua abaixo.

— Quando Martin chegar diga a ele que não pude esperar! — gritou ele, e desapareceu como um foguete.

Agnaldo Billy Vergara
Enviado por Agnaldo Billy Vergara em 18/10/2010
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