Parque das Verdades

"Texto de Sophysta com adaptações feitas por mim."

Confesso que estou muito triste. A morbidez me assola como mérito. Que o entendimento fique em seu critério. E ao desenrolar acontece outra estória ou história, seja lá o que for... Só que na minha ignorância confundo pudor com amor e vice-versa. Na medida em que a caipirinha vem amargando em meu paladar, vai mexendo com meus neurônios transcedendo meu estado racional. São jogadas numa mesa promessas, juras que se foram (para onde mesmo?), coisas que perderam o valor em nossa rotina. E é viciante falar disso.

Parque das Verdades.

A certa idade nós somos levados a um parque de diversões. Músicas diversas e alegres, luzes das mais variadas cores, risos e ingredientes de harmonia. Tudo tão fantástico! Que fique claro que nosso passeio é vampiresco. O fim da noite representa nossa insatisfação com a Dona Morte. Mas, não se preocupem! Como sempre ela passará despercebida por alguns.

Minhas escrituras soam como um mantra ou mais um daqueles momentos de depressão que você sente a dor nas palavras e nem consegue perder a atenção. Irônico.

Após nossa entrada nesse misterioso parque há imensas filas. Cada uma constitui um período de nossas vidas, varia de fila de brinquedos a fila de lanches, de hospitais a empregos... No momento aparenta até ser surpreendente. Também há os famosos fura-filas, no popular atrasa-lados.

Pronto. Ticket comprado. Impossível distinguir o porquê que o carrinho de batida foi mais atrativo para mim de primeira vista. Talvez pelo fato de se assemelhar com o período de preocupação num certo estágio da vida, onde o bater a cabeça na parede sem saber qual caminho seguir parece ser normal no átimo. Pareço bobo quando digo que a verdadeira graça seria bater na maior quantidade de carrinhos. Que pena! O meu se estraçalhou junto com a paciência gerando envelhecimento precoce. Não sou eu que digo. É o espelho que revela.

Em seguida sigo para o carrossel. Parece ser legal ver os outros dando voltas e mais voltas no mesmo lugar. Legal quando são os “outros”. Quando eu estou preso nessa redoma, não. Tudo está girando, sinto a vertigem meu senso. Aliás, o mundo nunca parou de girar. Nós que nos limitamos a ficar parados sempre no mesmo local à espera de mudanças que nunca virão ou se chegarem serão vistas como visitas desnecessárias e mal vindas.

Como vim parar na roda-gigante? Que oscilação! Parece a bolsa de valores!...

E as horas vão passando... 03h20min da madrugada. Após estar tonto de tanto bater a cabeça, andar em círculos, subir e descer paro para fazer um lanche, fastfood para “não variar”. Não pude deixar de notar que aquela mulher de cabelos negros e lisos, sorriso fulminante e olhar excitante está me observando de frente ao túnel do amor. Sem pensar duas vezes (isso me faria doer à cabeça) sigo para sua direção. Após apanhar tanto, até parece ser uma noite romântica: céu estrelado, ou seja, noite escura e sem estrelas, pois se tivesse o formoso plenilúnio não haveria tantas estrelas, nós dois amplexados na mesma barcarola, muita coisa em comum... Semelhante a algo surreal sair de um exílio e fazer parte de uma dinastia amorosa.

- Olha lá a luz no fim do túnel! Sabe, é imensa e minha felicidade em estarmos juntos...

Num descuido, percebi que havia saído sozinho. Mas, como pude deixá-la escapar sem me dar conta disso? Nesse todo pude ver que faltava muito a descobrir dela e o quanto fui tolo em não notar tal coisa.

Sinto-me inútil!

Engraçado que esse túnel termina em frente ao Castelo do Terror. O que pode ser pior que isso? (A realidade fora de seu mundinho individual é muito pior que isso!). Sem hesitar segui para lá. Até me questionei o porquê não havia fila para entrar. Pensei: vou me divertir pelo resto da noite nesse brinquedo.

Passeio estranho. Meus pêlos se eriçam com o sopro do vento e a sinfonia tenebrosa ecoa em meus tímpanos. Cada criatura esquisita, nem parece ser humano. Crianças na qual se divertiam eram anjos que se transformaram em demônios com um saco de cola e uma faca na mão. Uns esmolam, outros choram de fome. Muito pior que qualquer filme de ficção. Muito choro, muita dor. Gritos de socorro que sequer podem ser ouvidos...

Após muita tristeza, consigo sair desse castelo. Nossa já são 06h00min. Na medida em que o sol vem surgindo nesse horizonte tímido nossas vidas vão dissolvendo. Fico me debatendo agora que descobri que o tempo se passou e não fiz nada de útil nesse parque. Deveria ter sido menos egoísta e ajudado o próximo nos momentos de tormento, mas foi sempre o inverso. O nosso modo de agir coloca sempre nosso ego em primeiro plano. Intrigante é que a mesma história vai se repetir e que o fim irá ser sempre o mesmo. Réstia de Quimera! A migalha é para os outros, é nossa oferenda. Por favor, aceitem!

Quando vocês acordarem não verão o mundo com os mesmo olhos, enquanto eu fico aqui quimerando a minha diva da barcarola que se afundou. Espero que tenham se divertido!

28/06/2008

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 19/10/2010
Reeditado em 19/10/2010
Código do texto: T2564780
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.