PROFESSOR NÃO CHORA!!!

- Excelência! - disse ela - Eu só posso pensar nessa palavra para descrever a maneira como o senhor ensina.

Professores não choram! Professores não choram!

Outro sábado, mais uma aula. Poderia estar dormindo, descansando, mas essas meninas valem a pena, o esforço...que esforço? Nenhuma pena! Amo o que eu faço, adoro a idéia de poder contribuir para o conhecimento dessas pessoas. Cada sábado é uma festa.

Enquanto sigo explicando as novas palavras, mostrando como a gramática servirá para a construção da comunicação em seus trabalhos, chamando a atenção para a importância de aprender uma segunda língua; percebo os olhos de cada uma delas brilhando.

É cedo, eu sei, elas estão ainda imersas em sono, eu tenho ciência; mas pouco a pouco, elas vão se interessando, ouvindo, processando, anotando, aprendendo e gostando. Trinta minutos depois, ninguém mais se lembra que é sábado, o que é sono, só o que é ensino.

Uma delas, muito querida, certa vez, confessou-me no final de uma aula:

" Teacher, devo admitir o quanto aprender essa língua é difícil para mim, porém, queria te dizer que já aprendi algo bem importante com o senhor: aprendi a gostar de estudar inglês."

Professores não choram! Professores não choram!

A aula de sábado continua. Em certos momentos, muitas delas se mostram confusas, balançam a cabeça dizendo que entenderam sim, mas seus olhares dizem que entenderam não; explico de novo, explicaria mil vezes, um milhão; até ter certeza que elas compreendem, que assimilaram, que não voltarão para casa do mesmo jeito que na classe chegaram. E quase sempre, percebo, no final da aula, que elas estão diferentes, mais confiantes, crentes que conseguirão falar inglês, talvez não tão cedo quanto a ansiedade delas deseja, talvez não tão tarde quanto as tentativas frustradas de outrora as fizeram acreditar; no tempo certo, no ritmo adequado, o aprendizado será afetivado, naturalmente, como qualquer outra habilidade aprendida.

Mônica levanta a mão direita, quer falar, pede licença, e diz que tem algo a dizer que não pode esperar:

" Algo aconteceu aqui na classe, e eu vou pedir para a Rô falar a respeito."

Alco ocorreu? A Rô vai falar? Como assim?

" Acho que me escolheram porque quase nunca falo - disse ela - e sou tímida e calada, mas vou tentar mesmo assim, meio que de improviso, meio que sem saber ao certo como colocar isso em um discurso, mas teacher, se eu pudesse escolher uma palavra para representar a sua maneira de ensinar, ela seria: Excelência! Eu só posso pensar nessa palavra para descrever a maneira como o senhor ensina."

Professores não choram! Professores não choram!

Elas me entregam, então, seus presentes, cartão, sorrisos, olhares de admiração, e tento agradecer, mas o que dizer? O que dizer? Eu que sou sempre cheio de palavras, fico mudo, diante daquela cena; e a homenagem não para ali, elas me conduzem da classe para outra sala, onde duas outras surpresas me esperam: a primeira, a festa! Sala toda enfeitada, no telão, passa um clipe da canção " To Sir, with love" da Lulu, do filme de mesmo nome de 67 com Sindney Potier, bolo gigante, refrigerante, suco, salgadinhos e "what a surprise" piscando em minha testa; e a segunda supresa, alguém anuncia:

" Todas nós sabemos, que por trás de um grande homem, sempre tem uma ..."

A porta se abre, surge Auri, minha esposa e musa, recebida com palmas, passa por mim sorrindo, com um poema na mão e recita:

"AO QUERIDO MESTRE

Menino Viajante,

Que vigia as letras da alma!

Alma repleta de pureza e alegria

Donte passa sua energia espalha;

Menino de música presente no ar

Donte vai, leva harmonia nas palavras,

Cada frase é dita com sabedoria,

É Guerreiro munido com a sua espada;

Menino das Letras e do Ensino,

Com dedicação sempre contou,

Fez da sua arte o seu caminho,

Esse era mesmo o seu destino

Mestre, amigo, professor!"

Professores não choravam, agora choram...