“La Sebastiana” Pablo Neruda’s House and Museum





Estive em La Sebastiana. Uma casa especial. A casa para onde Pablo Neruda se mudou quando se sentiu cansado de viver em Santiago. Acho que eu também me cansaria de viver em Santiago. E acho que também seria muito interessante viver nessa casa. Cheia de escadas e janelas. E com uma torre.

La Sebastiana fica em Valparaíso,    cidade da qual não posso dizer se gostei ou não. Pouco vi da cidade, pouco ouvi sobre ela. Mas a casa estava lá e eu me encantei. Tiene que poseer algunas condiciones: No puede estar muy arriba ni muy abajo. Para mim ela está muito acima. Porque Valparaíso é uma cidade portuária, mas quase tudo está muito acima. A idéia que me ficou é que ali quase tudo é cerro. O carro que nos conduzia só fazia subir e no meio do cerro Florida estava a casita.

Quando Neruda a comprou era uma casa com a construção inacabada. O dono, Sebastián Collado, morreu antes que a construção tivesse fim e durante anos ficou abandonada.

A casa é cheia de escadas e de pequenos cômodos. Sei lá se eram mesmo tão pequenos, tinha tanta gente lá, que a impressão era essa. Comprou-a de meia com um casal amigo, pois a considerou muito grande. Os amigos ficaram com as partes mais baixas, ele com o terceiro e quarto piso e a torre. Quando acabou a construção colocou na parede um quadro do poeta norteamericano Walt Whitman. Um dos trabalhadores na construção perguntou-lhe se era seu pai. Ele respondeu que sim: en la poesia.

Escadas, janelas e terraços.E a torre.Eu queria essa torre para mim. Ficaria lá em cima, com meus livros e o computador. Olhando o mar. Talvez eu pudesse aprender a fazer sonetos como Neruda.  Um vista fantástica. Neruda certa vez, levou seus convidados, um de cada vez até a torre e de lá mostrava uma mulher nua estendida em um teto ao longe,  a tomar sol. Não consta que alguém a tenha visto. Mas o poeta garantia que ela estava lá. Certamente estava. O poera vê coisas que ninguém mais vê.
 
Contam-se muitas histórias sobre a casa. Uma vez, por exemplo, após a morte de Neruda os vizinhos ficaram alvoroçados com uma barulheira que se ouvia dentro da casa. O co-proprietário da residência subiu cautelosamente até a parte superior para ver o que ocorria. Uma águia estava presa dentro do imóvel.Inexplicável sua entrada ali. Aberta a janela da sala de estar, ela saiu. E o amigo não pode deixar de se lembrar que Pablo lhe dissera uma vez que, se houvesse outra vida, gostaria de voltar como águia.Talvez tenha voltado e continue sobrevoando sua terra tão amada.

Em 1973 houve um golpe militar de triste memória no Chile. A casa foi saqueada em total desprezo para com a memória cultural da cidade. Tornou-se Centro Cultural em 1997. 

Neruda, um dos inúmeros poetas que me fizeram amar a poesia. E como não ama´-la quando se lê coisas como esta?



Se cada dia cai

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Pablo Neruda (Últimos Poemas)