A vida a dois

¨ O desafio de manter um relacionamento amoroso está ligado à capacidade de o casal renovar-se constantemente e evoluir junto, mas sem que cada um abra mão do seu crescimento individual¨.

De alguns anos para cá, o casamento como instituição e a família como núcleo ganharam uma extrema flexibilidade. A durabilidade de muitos casais é relativamente baixa e quase nunca há certeza total sobre ela. Em muitos casos, passada a paixão inicial, não surge um amor de raízes fortes e o casal, enfraquecido pela rotina acaba caindo como uma árvore seca que não resiste um dia de vento.

A verdade é que a vida a dois é um processo químico complexo, em que todas as tendências maiores e menores de cada um reagem constantemente. Neste contexto, pretender manter o amor inalterado é pouco realista. A transformação é diária e inevitável, mas o amor pode ser reinventado a cada momento. As pessoas assistem filmes, lêem livros, ouvem músicas sobre o amor, mas quase ninguém aprende algo sobre a arte do amor, já escreveu Erich Fromm há quase 30 anos.

O prazer de amar é bem diferente da busca egoísta da satisfação. No verdadeiro amor o prazer vem, inclusive fisicamente, da necessidade interna de dar prazer ao outro. Um casal constitui um processo vivo e complexo que ocorre simultaneamente em diversos níveis de consciência, e a atração física que sentimos é um elemento, apenas, entre tantos outros. Existe o plano das emoções impessoais, transcendentes. Depois vem o plano das idéias concretas e práticas e o nível das idéias abstratas e contemplativas. Há o nível intuitivo, e também o plano da vontade interior e o espiritual. Para que seja equilibrada e positiva, uma relação de casal deve possibilitar harmonia entre todos os vários veículos da consciência de cada um. E isso nem sempre ocorre.

Alguns se precipitam em uma união definitiva pelos impulsos dos corpos de desejo e casam-se com a primeira pessoa do sexo oposto que lhe fornece alívio para seus desejos sexuais. Outros apressados tomam o impulso emocional como fator decisivo.

No casal ideal, ambos vão descobrindo novos níveis de consciência mais profundos à medida que o tempo passa; o amor misturará desejos e aspirações. Não basta dar ao outro tudo o que possuímos. É necessário dar o que o outro precisa.

¨Cada caminho é apenas um, entre um milhão e caminhos ¨(Carlos Castaneda). Experimente. Examine e depois se pergunte, este caminho tem coração? Se tiver coração, o caminho é bom.

A vida só é linear na aparência. Quando o futuro de uma relação amorosa é somente a continuação do passado, já não há relação, nem amor. Mas quando a relação renasce a cada momento, o amor é como um rio, que renova constantemente suas águas sem sair do lugar para isso. Deste sentimento, deverá brotar a civilização do futuro que já pode estar nascendo agora e que colocará a vida humana, finalmente em harmonia com o céu e a terra.

Rejane Savegnago
Enviado por Rejane Savegnago em 20/10/2010
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