EFEITOS DE UMA GRIPE

Parece que peguei uma doença japonesa: chiatsu. Meu peito tornou-se uma harpa eólica que emite sons à passagem do vento. Aonde vou, levo dois objetos fundamentais, um maço de guardanapos dos grandes e uma sacolinha de plástico, daquelas de avião. A tosse sai aos arrancos incontroláveis, estremecendo todos os músculos do corpo. Menos mal, estou trabalhando todos os músculos, como gostaria meu “personal trainer” (se eu pudesse pagar um).

Toda secreção que coloco para fora me vem em dobro. Gostaria que isso acontecesse com meu dinheiro. Aliás, minha maior fantasia não é sexual. Tenho a fantasia de possuir uma nota mágica de cem reais: toda vez que a tirasse do bolso para gastar, apareceria outra no mesmo lugar. Iria viver fazendo compras.

Durante o dia, dei uma ligada para minha prima, e ela:

– Por favor, quem está falando?

– Sou eu, prima.

– Nossa! Que voz!

Minha voz vinha ribombando da caixa torácica, como a de um tenor. Se eu soubesse cantar, teria interpretado uma ária. Para aproveitar a potência da voz, me plantei diante do espelho e declamei um trecho de Navio Negreiro, de Castro Alves. Aquele trecho que se inicia assim: “Auriverde pendão da minha terra / que a brisa do Brasil beija e balança...”. Pois é, Castro Alves, espero que a brisa do Brasil não seja amordaçada, que possa continuar beijando nosso honrado pavilhão.

É incrível. A Medicina tem tido ultimamente grandes avanços. A madame acha que tem o traseiro caído? Não tem problema. É só dar um pulo no consultório de seu cirurgião e este a transforma numa deusa calipígia (se você, leitor, não sabe o que é isso, está na hora de comprar o novo Aurélio).

Se o cavalheiro, por uma lastimável circunstância, decepou o bilau, não há motivo para preocupar-se. Junte os “despojos” e vá urgente a um centro especializado; seu órgão de estimação será imediatamente reimplantado. Se tiver sorte, talvez lhe implantem um pedaço maior do que o original. Quem sabe, proximamente, poderemos trocar de cérebro. Algumas pessoas poderão comprar perucas com um cérebro novo já instalado. Já imaginou, leitor, uma peruca estilo Marilyn Monroe com um cérebro do Einstein? Ninguém mais poderá insinuar que as louras são burras. Heilôôô!

Agora, vá o pobre mortal ter uma gripe, uma sinusite ou uma rinitezinha. Vai continuar por toda a vida ingerindo xaropes antiquados e inúteis.

Hilton Gorresen
Enviado por Hilton Gorresen em 20/10/2010
Código do texto: T2568578
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