Um exemplo de Alegria

Minha mãe tem 91 anos. Caminha todas as manhãs cerca de uma hora pelas ruas do bairro com a acompanhante. De onde vem tanta saúde? É que colocavam um pouquinho de vinho na minha mamadeira, ela brinca. É portuguesa, veio muito pequena. Nem sotaque tem.

Quando estava com 68 anos, levei-a para conhecer a aldeia, Edral, ao norte, perto de Bragança. Do alto de uma enorme montanha se divisava grande parte de Portugal setentrional. Gente muito clara, pastores- dizem que descendentes dos celtas - vinhas, passas dependuradas nos forros de madeira das simples e confortáveis casas de pedra.

Alguns parentes que a viram nascer estavam ali. A emoção foi grande. Pensaram que viéramos reclamar herança. Não primo, viemos para conhecê-los. E foi festa por todo um dia regada a vinho, iguarias e alegria.

Depois a despedida e nunca mais. Ficaram a lembrança e a fotografia da emoção.

Muitos parentes certamente não estão mais por aqui, mas a saudável anciã continua a nos espreitar, a nos vigiar, a nos ensinar a ser felizes, otimistas e sorrir sempre, seguir caminhando alegremente por esta infindável estrada da vida.

Nagib Anderáos Neto