Crônicas da nova era II - Considerações econômico-históricas

No princípio os homens andavam pelas estepes colhendo todo o alimento e todos os víveres que precisavam para sobreviver. Havia batalhas eventuais entre os clãs pelos recursos, tudo isso de modo muito assemelhado ao dos animais sociais.

Com o passar do tempo um grupo aprendeu a plantar, conseguindo em virtude dessa atividade uma enorme abundância de alimento que propiciou o rápido aumento do número de integrantes do grupo.

Posteriormente, esse grupo imenso e capaz de gerar seu próprio alimento se subdividiu em dois grupos também aptos a cultivar o próprio alimento, de maneira que esses grupos bem alimentados logo cresceram e se dividiram, gerando novos grupos de agricultores e assim a atividade agrícola logo se espalhou por todo o mundo habitado.

Mas os agricultores tinham que se fixar à terra, e já não podiam vagar pelas planícies pois tinham lançado raízes ao solo. Seus grupos logo aumentaram enormemente, em parte pela abundância de alimentos, em parte para defender suas colheitas dos grupos que ainda vagavam a esmo em busca do que comer.

Logo surgiu a escravidão, a exploração do homem pelo homem, e uns obrigaram outros a cultivar, colher e cozinhar o alimento do qual se nutriam, e a escravidão perdurou por milênios enquanto houve escassez.

Mas depois veio a máquina e o trabalho humano se tornou não apenas inútil mas ruim, pois logo a perícia das máquinas superou a humana tornando a ação do homem prejudicial à qualidade da produção.

A produtividade das máquinas logo superou imensamente a possibilidade de consumo humano, e embora fossem inventados os mais disparatados modos de consumo, e ainda que os dispêndios mais perdulários tivessem sido encorajados, a capacidade produtiva das máquinas sobrepujava todos os imensos gastos humanos.

A capacidade produtiva das máquinas, no entanto, aumentava a cada dia que passava, de modo que a força de trabalho humana ia se tornando cada vez mais inútil. Foram criados muitos cargos tão inúteis e absurdos com o único propósito de ocupar pessoas, um dos muitos eufemismos para os novos modos de escravização sempre reinventados.

Logo ficou visto que o trabalho humano era praticamente desnecessário, que poucas horas de trabalho, agregadas ao poder das máquinas, forneciam sustento a muitos.

Mas as tradições sustentavam que quem não trabalhasse não poderia comer. Que só os escravos poderiam ter fome, e nem todos foram libertos.

Então as horas de trabalho tiveram que ser reduzidas, dada a sua completa inutilidade, as jornadas tiveram que ser minoradas, assim como os anos de trabalho até a aposentadoria.

Também foram criados os inúmeros cargos despropositados, a maioria deles parte do aparelho de estado, gerados com o propósito exclusivo de fomentar o parasitismo do estado.

Junto com essas medidas vieram os seguros desemprego, as bolsas família e outras medidas de sustento dos libertos, jogados à liberdade, às ruas e à fome como em todas as libertações.