Dias melhores se foram - Crônicas curtas -

Ele a conhecera em uma praça. Estava sentada num banco de madeira verde claro. Claro como seus olhos. Cabelos ondulados e dourados. Tinha um sorriso misterioso, mas ao mesmo tempo sincero. Jamais a esqueceria. Ela dava pedaços de pão para os passarinhos, e ele achava o máximo. Ela, sanduíche de pão integral com atum e suco de laranja. Ele, cachorro quente com refrigerante de groselha. Mas não era empecilho nenhum. Admirava tudo que ela fazia. Quantos dias de sol, quantos dias de chuva, quantos de vento. Foram anos. Cada dia era uma nova emoção, o coração batia mais forte quando a via. Lábios vermelhos carnudos. Nunca vira uma boca tão linda. Doía de tanto amar. Suspirava fundo.

Hoje sentado no mesmo banco ainda lembra-se do dia em que ela derramou suco no vestido florido e ficou rubra de vergonha. Ele tentou fingir não ver, mas não se conteve e os dois riram por um longo tempo.

Ele está segurando com a mão trêmula um cachorro quente enquanto com os olhos banhados em lágrimas lança sua mão marcada pelo tempo num copo de suco de laranja. Lembrara daquele dia. E só se arrependera de uma coisa. Devia ter perguntado seu nome...