''Minha atrasada primeira vez''

Ah! Ainda me lembro saudoso das maravilhas que o tempo de escola me reservou, até mesmo o cheiro do ''recreio'' vez ou outra passa ainda poderoso pelo meu olfato já cansado dos desprazeres esfumacentos dos dias modernos, deixando instigadas minhas memórias felizes a saltarem do passado e reassumirem o controle da minha confusa vida de adulto.

Mas é vagando pelas odisséias vitoriosas da juventude é que também retornam a mim, memorias do meu pesadelo mais terrivel da remota época, era ela, Dona Cotinha ,a terrivel velhinha e seus dragões chamados lingua portuguesa, literatura, gramatica e demais formas de torturas.

Nada nem ninguem era capaz de por em minha cabeça regras simples da lingua falada em nosso proprio país; não adiantava, minha vocação eram os animais, adorava, sabia tudo, sonhava ser um grande veterinario e nem ao menos entendia o valor de conhecer o básico sobre nossa propria literatura, para total frustração de Dona Cotinha que sempre paciente me fazia tentar por centenas de vezes na velha lousa verde escura nunca desanimando e vendo ainda sim em mim, sabe-se lá por qual motivo alguem com ''potencial para escrever'' nas proprias palavras da sabia velhinha.

O tempo passou, e ao entrar na faculdade de veterinaria supus em vão que não fosse mais ter a fente duelos gramaticais contra carrancudos professores, doce ilusão, durante todo o curso volta e meia me deparava com o velho lapis e sua fiél companheira folha em branco, que me traziam arrepios antes mesmo de saber o que teria de escrever.Mas para meu total espanto, seguindo o exemplo de Dona Cotinha, ao invés do fracasso esperado após de centenas de linhas sem inspiração, sempre vinham frases do tipo:''voce escreve muito bem'' ou pior ''largue veterinaria, vá procurar algo que tenha a ver com escrever!!".Que?? eu adoro animais, adoro a idéia de poder ajuda-los, até salva-los; não gosto de escrever, nunca gostei, Dona Cotinha estava errada, meus professores de faculdade? tambem estão, quero me formar veterinário.

Dito e feito, me formei abri uma clinica e trabalhei no meu sonho por 30 felizes anos, até que hoje pela primeira vez, sem mais nem menos, depois de concluir tudo ou quase tudo que almejei na vida, me deparo com a idéia outrora maluca de escrever, audaciosa cresce em minha cabeça quase que me forçando a tentar e já sem motivos pra não o fazer, longe de antigos preconceitos, sigo o conselho de Dona cotinha; sem a antiga má vontade ou o medo do fracasso sinto uma real vontade e faço, sem ninguem mandar.

Acabo achando o verdadeiro sentido de escrever; a vontade de compartilhar com outros tudo o que vivi de bom, de ruim, de novo, de unico.Afinal, nossa vida é um livro e cada capitulo merece ser narrado e lembrado com todo cuidado e carinho possivel.É isso que estou fazendo hoje, e isso que farei daqui pra frente, afinal de contas, essa é minha vocação, eu querendo ou não.

(Versão:Original,2006

*Autor: Zizou)

Zizou
Enviado por Zizou em 07/10/2006
Reeditado em 14/10/2006
Código do texto: T258241