Mesmo que esse apelo seja tardio, procura-se um irmão. O espaço que ele deveria ter ocupado, ficou vazio. Ficou vazio o desejo de meu pai de ter um filho varão. Suas preces não foram ouvidas. O filho, tão desejado, não veio. E, as marias, foram chegando...bem vindas, mas cadê o filho que não chegava? Crescemos ouvindo essa frustração. Apesar de termos, nós marias, cumprido nossos papeis de filhas devotadas, ficou o espaço vago.
        E, agora, tento compor esse ausente. Não, não seria Marleno, nem tão pouco Marlúcio. Até que enfim, nada de maria. a saga estava completa. Certamente teria um nome forte e másculo. Antonio, seria perfeito. Teria hábitos simples. Gostaria de comida caseira e doces de toda espécie. Teria gestos lentos e refinados, decididos. Se vestiria de maneira sóbria e discreta. Certamente teria casado ainda jovem e teria uma penca de filhos e netos. Seria um fiel apaixonado por Chico Buarque e por vezes ficaria horas dedilhando um violão na tentativa de tocar Valsinha. Gostaria de feira livre, de escolher as melhores frutas, descobrir uma novidade. Apesar de não ser católico praticante, frequentaria a igreja em ocasiões especiais, casamentos e missas fúnebres. Seria amigo, solidário, um pouco preguiçoso, um pouco desleixado, mas, seria um ser humano de primeiro quilate.
        Esse seria meu irmão que não veio. O tão esperado que nunca apareceu. Se voce por acaso encontrá-lo, reconhece-lo nas estradas da vida, por favor, diga que as marias ainda estão por aqui e que nunca é tarde para se renascer, mesmo estando com os cabelos brancos e o passo não tão firme. Certamente nossos corações se entenderão perfeitamente.