Setecentas palavras
 
 
Preciso de setecentas palavras para escrever esta crônica. Uma para cada texto que escrevi durante minha participação no Recanto das Letras. Seria uma forma de comemorar os setecentos textos. Nunca imaginei que pudesse ser tão prolixa e escrever tanto assim. Mas escrevi, não há como mudar. E faço isso em um dia que deveria ser especial: o dia em que elegemos um novo presidente para os próximos quatro anos. É o encerramento de um ciclo e o começo de outro embora possa até parecer que tudo continuará igual. Não continuará. Não sei ainda o resultado, mas para mim ele está claro. Dilma, uma mulher governa pela primeira vez o Brasil. Para mim, ser homem ou mulher não faz a menor diferença. Um governante precisa esquecer seu próprio gênero quando governa e desenvolver as suas próprias capacidades com o objetivo de atender ao bem comum. Mas um pensamento intrometido me diz que a escolha pessoal de Dilma por parte de Lula está ligada ao interesse que ele tem de continuar no Poder. Ele a conhece, trabalhou com ela por muito tempo e é evidente o seu interesse em continuar a orientar a política brasileira. Eu fico aqui pensando que, se Dona Marisa tivesse um pouquinho de capacidade seria a ela que ele escolheria para a sua tão sonhada alternância no Poder. Mas, Dona Marisa ninguém ia engolir. Então escolheu uma mulher que acredita continuará docilmente a seguir as suas “sugestões”. Inclusive algumas dessas sugestões já estão sendo divulgadas pela imprensa. Como a de manter no cargo certas pessoas... Como indivíduo poderá ter erros e acertos, mas serão os seus erros e acertos e as decisões que tomar, embora influenciada por aconselhamentos, serão as suas. Mas se decidir ser a sombra de Lula estará colocando o país em sérios riscos. Respeito o governo de Lula e suas conquistas, mas sou capaz de reconhecer seus enganos. Mas Lula passou, assim como passou Fernando Henrique. Cada um no seu tempo realizando o papel que lhe coube. O papel de Lula agora é o de ex-presidente. O de Dilma, não mais será a de Chefe da Casa Civil, mas de presidente. Que ela seja mais esperta como Presidente do que como Chefe da Casa Civil. Deixar o bando de Erenice agir sob suas barbas não foi nada esperto. Isso, considerando que ela realmente ignorava o assunto, o que não está muito claro e é assustador.

Preciso de setecentas palavras para escrever esta crônica e até começar este parágrafo só tinha quatrocentas. E enquanto busco as palavras restantes penso no lulismo e meu pensamento vai mais para o sul e penso no Kircherismo. Ali também havia um projeto de continuidade e alternância no Poder. Que foi rompido por um fator que ninguém gosta de levar em consideração em seus planos de vida: a morte. Néstor se foi e Cristina ficou. E agora? Os caminhos traçados terão que ser alterados porque ela, a que iguala todos, fez mais uma das suas. E o que me deixa mais perplexa é isto: ela nunca é levada em consideração porque quase todos nós agimos nessa vida como imortais. Se nós, cidadãos comuns, agimos como imortais, o que diremos deles. os que em vida já agem como se fossem Deuses?

Com setecentas palavras homenageio meus leitores. Tenho mais leitores do que jamais imaginei embora muitas vezes pergunte: por que será realmente que me lêem? Cada um tem suas razões, sejam eles permanentes ou ocasionais. Não importa. Gosto que me leiam porque acham que escrevo bem, mas gosto mais ainda porque quero acreditar que ficamos amigos. Porque eu mesma não ando satisfeita com o que escrevo. Queria o indizível, o não escrito. Mas tudo já foi escrito! Os gregos não me desmentem. Nem Shakespeare. Nem muitos outros por aí.
 

Posso não andar satisfeita com o que escrevo, mas ando satisfeita com o que leio. Muito mais do que setecentas palavras por dia. Leio compulsivamente. Aqui encontrei grandes parceiros. Em todas as áreas da boa escrita. Encontrei amigos, que busco principalmente nos fins de noite. Com eles reparto minhas emoções, aprendo e tenho a ilusão de que os ajudo a aprender um pouquinho também. É disso que é feita a vida. De troca,