UMA BANDEIRA AMARELA

Durante algumas semanas uma bandeira amarela com os dizeres:"SERRA 45",desfraldou os azulados céus num cantinho da minha amada Irati.

A minha residência,numa esquina movimentada,deixava bem visível a minha preferência quanto aos destinos do meu País.

Na farmácia,ao lado da minha casa,comungávamos dos mesmos anseios,pensávamos iguais.

Cruzando a rua,na outra esquina,o meu vizinho não hasteara a sua bandeira,porém,declarara-se,êle e tôda a sua grande família,eleitores de Dilma.

Nosso relacionamento,sempre cordial,continuou sem qualquer alteração,ainda que divergências de formas de pensar nos levassem,vez e outra,à alguns debates um pouco mais acirrados.

Concluída a apuração das urnas e conhecida a vencedora,na mais democrática das atitudes,enquanto recolhia a bandeira das minhas esperanças sob um céu estrelado de uma noite fria do Sul,fui convidado à fazer parte das comemorações na casa vizinha.Fomos,minha família e eu,entrosados no clima de harmonia e amizade que sempre nos cercou e em momento algum houve qualquer manifestação de desrespeito pela derrota do meu canditado.

Dobrada carinhosamente,a bandeira que embalou nos ares as minhas aspirações,foi guardada como lembrança de um tempo de sonhos,de ideais,que eu não diria frustrados,mas,plantados numa terra fértil por onde raizes haverão de fortalecer um arbusto forte à frutificar num tempo futuro.

Infelizmente,nos últimos tempos,entristecido perdi meu tempo lendo absurdos "dos dois lados",vindos de pessoas que ao meu ver são inteligentes,que usaram dêste recanto com a maior das agressividades,não incomodando-se se "quem pagou quer ouvir",como diz a canção de Milton Nascimento.

Fugi do recanto,por uim breve tempo,embora a minha ausência nada representasse.Volto agora,no meu estilo,com a humildade suficiente para abraçar os felizes eleitores da atual presidenta.Claro que me senti chateado,indignado,com certas atitudes,vindas até de pessoas com seus quase 70 anos de idade,sem o menor senso de polidez e educação.Que bom que isso tudo já passou.E que o meu modesto exemplo da vizinhança democrática,possa valer de alguma forma.