SURREALISMO REAL

Nove horas da manhã. Ônibus cheio mas não lotado, um ou outro passageiro de pé. Súbito, numa das paradas habituais daquela linha, sobe um elemento que vai logo apontando o 38 para os passageiros.

- Olhaê, isso é um assalto. Vão logo passando dinheiro e celular.

Assustados, os passageiros vão entregando seus pertences ao ladrão que, acostumado ao seu ofício, recolhe tudo rapidamente, enchendo os bolsos.

Manda o motorista parar o ônibus. Vai descendo, para grande alívio dos passageiros. Já no segundo degrau, muda de idéia.

- Ah, ia esquecendo! Hoje é meu aniversário. Todo mundo aí cantando Parabéns pra mim.

Incrédulos, os passageiros entendem que não se trata de brincadeira, porque o 38 continua apontado para todos.

E, superando a humilhação extrema, cantam mesmo “Parabéns pra você, nesta data querida!”

O ladrão ouve, sorrindo, satisfeito.

-É isso aí!

E desce do ônibus calmamente, como se nada tivesse acontecido.

A cena surreal não é ficção. Aconteceu mesmo, em Recife, numa das linhas de ônibus de um subúrbio densamente habitado da cidade.