Ramister Esquizofrênico.

Raminster Esquizofrênico

Eu ando pelo pequeno apartamento de 96 m² quilometros e mais quilometros todos os dias.

Não sinto vontade de sair, posso ver tudo pela janela do décimo quarto andar. O movimento da rua me causa um certo pânico e definitivamente não quero encontrar as mesmas caras. Não entendo como é possível encontrar sempre as mesmas pessoas toda vez que se resolve sair de casa para ver algo novo. Daí tem sempre a mulher do apartamento do andar de cima, com aquela sua cadelinha yorkshire que mais parece um porta-jóia de tantos badulaques, sem falar das roupinhas com brilhos e frufrus. Queria muito saber se ela lê pensamentos.

Sempre que encontro com essa mulher, sinto náuseas quando ela chama sua delicada Pat de filha. Penso nas crianças de rua e quase desisto de sair porque certamente eu encontrarei muitas delas. Mas meu apartamento é pequeno, eu fiquei desempregada um tempão e não tenho a menor paciência com criança, caso contrário já teria pelo menos uma dúzia delas.

Quando consigo sair, tenho a nitida impressão de que todos estão me observando, penso que deve estar ainda num estado leve de esquizôfrenia, mas relaxo e penso que todos estão pensando a mesma coisa, e sinto que estou incomodando mais do que sendo incomodada com o meu olhar critico que lanço pra moça que passa do meu lado, com um palmo de barriga pra fora, um piercing gigante pendurado no umbigo ao frio de treze graus celsius, enquanto eu estou de gorro, cachecol e um sobretudo velho demais pra dizer que tem estilo e dois pares de meias. Agora me sinto um extraterrestre-esquizofrênico.

Hoje eu consegui dar alguns passos a mais, mas a semana que vem eu juro que vou chegar até o parque, quem sabe eu me anime um pouco e encontre alguém que não tenha o olhar parecido com o do meu psiquiatra. Ele me indicou Zollof, mas eu perdi a vontade tomar banho, de comer, de fazer sexo, então desistí e comprei um livro de ioga do mestre“de rose”, fiquei curiosa entrei na internete e descobri que ele é investigado por crimes sexuais. Não consegui mais relaxar, ficava apenas pensando se aquilo seria verdade ou apenas alguma reportagem sensacionalista .Isso foi há alguns dias, foi quando eu percebi que eu estava virando um raminster, ficava girando em circulos dentro do apartamento, pedindo pizza e comida chinesa por telefone, indo a cada uma hora bebericar no gargalo uma dose de black label, depois me encolhia num canto do sofá, ligava a tevê e cochilava, até acordar e de novo, circular pelo apartamento, olhando pelas janelas de cada um dos cômodos as ruas que me rodeiam. Hoje eu não consegui ir na acadêmia, continuei rodando em circulos, foi quando eu percebí que eu sou um ramister esquizôfrenico.

Cristhina Rangel
Enviado por Cristhina Rangel em 04/11/2010
Reeditado em 24/11/2010
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