É, estou te devendo essa há muito tempo. E, agora que penso que poderia pagar meu débito, não me acho com condições para tal. Onde encontrar palavras? Como escrever para, ou sobre a senhora? Aliás, pensando bem, quem sou eu para escrever sobre tamanha pessoa? E, mais uma vez, fico travada. Faltam-me palavras. E, teria tanto a dizer... Da mesma maneira como faltavam diante de ti. Teu tamanho me fazia pequenar, me deixava criança fora de hora. No entanto, mesmo sabendo que jamais conseguiria retratar o tempo que tivemos o previlégio de te ter, as lembranças me vêem de maneira forte e saudosa.
           O dia 12 de novembro está chegando. Dia de teu aniversário. E, como era esse tempo? Era uma festa interminável, que antecedia o dia 12 e se estendia muito além. Um dia era muito pouco para te celebrar... Um mes antes, já se falava sobre os preparativos. Falava-se das flores e toalhas para as mesinhas que seriam dispostas no teu quintal, onde brotavam lírios tão brancos, tão perfumados. As mesas iam do canteiro dos lírios ao parreiral das uvas. Falava-se do cardápio sempre muito bem elaborado e á cargo de tua filha caçula. E, lá vinha o planejamento do bolo, sempre requintado. Por fim, era chegada a hora de fazer a extensa lista dos convidados, geralmente parentes e amigos, uma legião de amigos que conquistastes ao longo de tua existencia. E, como eram muitos e fiéis...
         Mesmo quando dizias que não precisava festa, era como um apelo para que a festa acontecesse. E, acontecia. E, era uma festa...com direito até a um conjunto tocando e cantando chorinhos. Os convidados não paravam de elogiar os pratos oferecidos durante o lauto jantar. Eras só alegria. Lembrava uma debutante nos seus 15 anos. Teu riso soava frouxo em meio aos presentes. Era uma conversinha cá, outra acolá e assim, conseguias te dividir com todos. Como teu aniversário era festejado! Na verdade, merecias bem mais. Tudo que te fizeram foi bem pouco, diante do merecido.
        Mas, o aniversário não terminava no dia 12. Continuava no dia seguinte com o feijão feito com as sobras do perú. Aí, só os mais íntimos participavam. Continuava nos comentários sobre tão importante acontecimento. E, na abertura dos presentes. E, lá estávamos nós não querendo acabar o dia 12.
        Na verdade, contigo foi o hábito de grandes celebrações. Na verdade, eras o eixo, a mola mestre, nosso porto seguro. Restamos desgarradas, sem rumo e menores. Nossa alegria, se foi.
      Como comemorar algo sem tua presença, sem tua vontade de viver, sem tua alegria...Fica-nos teu exemplo, difícil de seguir, mas muito presente em nossas vidas, fica um buraco enorme, nunca superado, e uma saudade tão grande que não tem tradução.
     Obrigada Osanete!