O PORTEIRO

JC chegou naquela manhã com uma sensação de que algo dentro dele havia trincado. Olhou a portaria os moradores que passavam como sempre faziam o ignoravam totalmente e ali sorrindo para o vento que entrava pelo fundo do prédio estava ele. Havia anos que JC estava sentado na mesma cadeira olhando a mesma vidraça os mesmos rostos que alguns já meio enrugados o olhavam de soslaios.

Há quantos anos apenas o seu sorriso refletia naquela porta de vidro e o quanto por todos eram ignorado esta era a palavra, durante anos, ignorado... Entrava natal( e nenhum “meus parabéns JC”) saia ano velho e ele ali a apertar o interfone dos apartamentos dando bons dias abrindo a porta dos elevadores carregando sacolas para as mulheres colocando o lixo no passeio oferecendo seu bom e boa noite a cada sol cada lua sendo ignorados.

Viu crianças nascerem crescerem casarem criarem seus filhos, viu velhos subirem para seus apartamentos e descerem em seus caixões em pé nos elevadores e creio que era a única hora em que respondiam seu “vai com Deus filho ou com o diabo se assim merecessem, mas isso doía como doía em seu coração de carne,” mas aquele dia tudo seria mais diferente não só daria mais um bom dia para quem quer fosse mas o abraçaria com força, não só abriria seu sorriso para a criancinha, mas ofereceria seu coração, não só separaria as correspondência dos moradores, mas entregaria em cada porta a boa nova, não permitiria que o lixo escores se pelas escadas e entrasse portas adentro como a juventude rebelde fazia, pois fazia parte da sua profissão pegar cada sacola de lixo e levar para ser reciclada. não trancaria a portaria para que o frio pegasse aquele que vagava na solidão da madrugada, se possível fosse JC se entregaria por cada um que encontrasse nos corredores e peitaria o ladrão da meia noite se lixando por sua própria vida, mas para a segurança da coletividade e toda liberdade para viverem, porque aquele dia era seu só seu era o dia da sua redenção, mas logo pela manhã junto a portaria estava o corpo de JC estendido no tapete persa manchando o com seu sangue e assim o porteiro JC morreu assassinado pelas mãos do ladrão da meia noite e em favor de todos os moradores do condomínio chamado NOSSA TERRA.