Eu faço minha parte no mundo.
Sem rascunho, tento transcender a ilusão caótica do mormasso lá de fora e os vulcões colocados no caminho pela violência.
Seremos os próximos ou apenas vamos lamentar por 2 minutos a repugnante barbáries alheias que nos assustam momentanemente?
Temos medo, vergonha, pânico mas virando a esquina jogamos o papel ou a lata no chão.
Do prato cheio separamos os ingredientes que não nos agradam e choramos com o telejornal que mostra a fome mundana. Fome de princípios, educação, gentileza.
Sentimos dó do cachorrinho faminto arrastando-se na noite fria, mas mando embora o mendigo fedido que incomoda minha porta ao som de palmas.
Rogamos a Deus pela paz, tranquilidade, saúde e xingo ferozmente aquele velho caduco que insiste em dirigir devagar e não abre passagem.
O erro está nos outros, eu dizimei, fiz minha parte. Eu separei meu lixo, fechei a torneira ao escovar os dentes, odeio a violência.
A corrupção torna o mundo podre, só porque dei 50 reias para o guarda me liberar não faço parte dela, faço?
Só porque envenenei o cão do vizinho que mutio ladrava não quer dizer que sou violento, quer?
Tratei mal e fui irônico com os "Cordeirinhos de Javé" que me vieram falar de Deus e da bíblia no domingo de manhã. Isso é não demonstrar educação e ser perverso? Acho que não, correto?
Lutei pelo meu candidato na campanha política, falei para todos e fui a todo lugar que podia, mas não participar da marcha pela paz na minha cidade me faz um hipócrita?
A culpa é dos outros, o mundo está do avesso. Mas minha parte eu faço, ou não.