Respingos de outrora...

Esther Ribeiro Gomes

Oh! que saudades eu tenho

da aurora da minha vida,

da minha infância querida

que os anos não trazem mais!

(Casimiro de Abreu)

Tenho saudades daqueles dias de outrora que o tempo, implacável, levou embora...

Saudade das cadeiras na calçada, das conversas animadas que adentravam a madrugada, da vida simples na minha cidadezinha do interior...

Não havia muros nas casas, os jardins beiravam as calçadas e os vizinhos eram amigos de toda hora.

Não havia violência, podíamos caminhar gostosamente contando estrelas e namorar nos bancos do jardim da pracinha, com a cumplicidade da lua...

Ah, que tempo bom! Tempo de ser feliz e nem perceber, tempo de rir gostosamente, de não exigir demais da vida, de se contentar com pouco, de desconhecer a palavra estresse, de não correr na vida feito louco para não se chegar a lugar algum...

Tempo de gostosas brincadeiras de criança, de brincar de pega-pega e esconde-esconde na praça, de pular corda e amarelinha na calçada, enfim, de viver!

Até hoje me lembro de uma mulher meio doida, coitada, que andava pelas ruas, descabelada, com o olhar perdido, sempre com um guarda-chuva na mão.

As crianças mexiam com ela e diziam: ‘Guilhermina do Zentão, cada passo um quarteirão’ e ela corria atrás delas com o guarda-chuva em punho...

Certa vez (devia ter uns cinco anos), eu estava sentada na escada da minha casa, quando a vi passar e quis fazer aquela brincadeira com ela. A mulher se enfureceu e entrou correndo atrás de mim pronta para me bater com seu guarda-chuva!

Eu corri até o fim do corredor e me escondi na cozinha, embaixo da mesa, onde minha mãe estava moendo café.

A mulher entrou logo atrás e gritou que ia me pegar e me dar uma boa surra! Então minha mãe a expulsou de casa, depois ralhou comigo e me colocou de castigo.

Talvez eu merecesse não uma surra, mas umas boas palmadas...

Até hoje me lembro do pavor que senti! Criança apronta cada uma...

Ah, que saudade daquela inocência da infância que se perdeu no tempo!

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 13/11/2010
Reeditado em 25/11/2010
Código do texto: T2613617