Magia em alto-mar

Esther Ribeiro Gomes

‘As pessoas viajam para procurar maravilhas no topo das montanhas,

nas altas ondas do mar, nos longos cursos dos rios,

na vasta extensão do oceano, no movimento circular das estrelas

e passam por si mesmas sem se maravilhar...’

(Santo Agostinho)

Parece que foi ontem... Era dezembro de 1992 e, eufóricos, embarcamos pela primeira vez, numa linda viagem de navio.

Para meu marido italiano, tinha que ser um navio italiano, lógico,

mas ele estava certo: a comida era deliciosa!

Era o ‘Costa Marina’, que fazia sua viagem inaugural no Brasil.

Embarcamos logo depois do Natal e passamos o réveillon a bordo, foram doze dias divinos que ainda hoje guardo na memória.

Saímos de Santos, passamos pelo Rio, Ilhéus, Maceió, Natal, seguindo até Fortaleza e o navio ficava um dia inteiro ancorado em cada porto, para que pudéssemos visitar as cidades.

Marinheira de primeira viagem, só levei roupas leves, afinal,

estávamos em alto verão.

Era tanta roupa de festa, uma para a noite do comandante, outra para o réveillon, outra para a noite de despedida, enfim, a mala ficou cheia, mas não havia um só agasalho para o frio...

Então começou o sofrimento, as salas do navio tinham ar-condicionado gelado e ficávamos tremendo de frio a noite inteira!

Teve gente que ficou resfriada, até com gripe forte.

Nós, mulheres, fizemos um abaixo-assinado para diminuírem o ar-condicionado, mas não obtivemos resultado.

Foi então que tive a idéia de pedir uma entrevista com a tripulação

e explicar a situação das mulheres a bordo, porque os homens

vestiam blazers e não sentiam tanto frio como nós.

Era só eu de mulher reunida com vários integrantes da tripulação, inclusive o comandante do navio.

Expliquei a nossa situação no meu italiano meio sofrível, mas eles me entenderam bem.

Disse que estávamos num país tropical e sair de um ambiente externo sob uma temperatura de trinta graus ou mais e entrar abruptamente numa sala gelada, estava deixando algumas pessoas doentes.

Eles foram muito gentis, disseram que iriam aumentar a temperatura, com exceção das salas de jogos, porque as máquinas precisam de ar bem gelado para não se estragarem.

No dia seguinte já acordamos com temperaturas bastante agradáveis...

O mesmo não aconteceu quando fizemos a segunda viagem pelas ilhas do Caribe, em 1997, com um navio maior, o Costa Vitória.

Ao contrário do Costa Marina, a maioria dos passageiros era de norte-americanos e eles adoram ar-condicionado gelado!

Aí minha reclamação não teria vez...

Mas como gato escaldado tem medo de água fria, desta vez levei vários agasalhos bem quentinhos...

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 19/11/2010
Reeditado em 19/11/2010
Código do texto: T2625081