Aprender e existir.

A maior paixão da minha história se fundamenta nisso: o amor à aprendizagem. Vale tudo: aprender a estudar todas as disciplinas ainda nos bancos de escola, fazer uma leitura interessante, conversar, sobretudo com os mais velhos, na tentativa de conseguir um pouco – bem pouco – de sabedoria. E que prazer é o poder exclamar: “aprendi”!!! Uma letra de música, um acorde novo no teclado, o uso do pincel numa tela branca, o show da mistura das cores, o descobrir que a semente germinou num vaso, mesmo dentro de apartamento... E como são bonitas as mãos: elas ensinam o cuidado, o afeto. Elas pegam um pedaço de giz e escrevem numa lousa, tendo à sua frente olhares, uns vagos, mas outros tantos com alguma curiosidade que desperta para novas descobertas! A busca do saber faz sonhar, olhar as estrelas com um amor infinito. Perceber o céu intenso que abraça a todos, os bons e os maus, com jeitinho de perdão. As minhas mãos ajudam a colocar agulhas nos pontos acupunturais. Por isso, ajudam os meus semelhantes a se livrarem de dores no corpo e na alma. E como é bom aprender fazer uma comida! A mesa é o espaço mais acolhedor que existe. Lugar de partilha, deixando passar pela boca o sabor daquele doce desejado, que também abraça o coração e faz sorrir.

E como é bom viver! Olhar! Reciclar. Perceber a vida em movimento e observar que o universo é infinito e então os nossos problemas só podem ser microscópicos. Por que chorar? Gilberto Gil vem rapidinho aos meus ouvidos e com insistência declama: “não, não chores mais”...

Aprender traz musicalidade a todos os órgãos e vísceras, incansavelmente. Eternamente.

Início da tarde, meu marido e eu paramos o carro numa loja de departamentos num bairro continental de Florianópolis. Na entrada, uma promoção: na compra de um chuveiro, o consumidor ganharia uma tábua de frios. Muito bem! Lá estava o vendedor anunciando a promoção: ainda bem jovem, anunciava em voz alta: “o senhor leva de brinde uma TAUBA”. E aquele som disforme foi me perseguindo pelos corredores da loja e, repetidas vezes, o rapaz fazia o anúncio. Não agüentei:

delicadamente, me aproximei, coloquei a mão no ombro do dedicado vendedor e disse: “meu filho, não é TAUBA. É tábua, olhe aqui”. E mostrei o anúncio escrito. Na brincadeira ele retrucou: “deixe de hipocrisia, dona. O importante é o outro entender. Sabe como é, sábado à tarde...” Interrompi o discurso altamente filosófico do mancebo. “Hipocrisia – apenas pensei – vai falar assim com a senhora sua mãe!” Mas simplesmente disse em tom decidido e incontestável: “tudo bem. Então fale TAUBA ” e saí dali imediatamente.

Me senti muito mal porque um jovem se recusar a aprender uma coisa tão mínima e com justificativa tão barata... esse vai continuar do mesmo tamanho até o fim dos tempos...

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 20/11/2010
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