Passeio Socrático

Esther Ribeiro Gomes

Em interessante crônica, Frei Betto nos convida a fazer uma autocrítica sobre esta era do consumismo desenfreado.

Nestes tempos modernos onde o materialismo sobrepujou os valores espirituais, onde o ser humano é avaliado pelo seu poder aquisitivo, a avidez pelo lucro desenfreado, insuflada pela mídia, criou uma total inversão de valores transformando as pessoas em robôs estereotipados e sem personalidade.

Hoje, o ‘ser’ não tem valor, o que importa é ‘ter’, é acumular, numa ambição desmedida, tal qual o profundíssimo ‘Poço de San Patricio’, em Orvieto (Itália), que parece não ter fundo!

As pessoas estão se tornando insaciáveis, quanto mais se tem, mais se quer, na ilusão de que os bens materiais trazem felicidade...

É o carro ‘do ano’, a casa perfeita, rodeada de muros altos para tentar conter a violência crescente, a roupa da moda, de preferência com etiqueta famosa, nem que seja preciso se endividar em prestações a perder de vista, enfim, são tantos os apelos consumistas que a mídia derrama neste mundo globalizado que, por mais que se adquira, fica sempre um gostinho de quero mais!

E o triste resultado dessa ganância desmedida, é a sensação de sermos consumidos pelas bordas, feito um mingau que logo é devorado, mas a fome não passa...

Nunca se viu tanta tecnologia sendo oferecida a preços convidativos, tanta concorrência, como um leilão para ver quem leva vantagem, envolvendo as pessoas de tal forma, que passam a acreditar naquela ‘felicidade’ fabricada.

Sem querer ser saudosista, como era bom aquele tempo em que as casas não tinham muros, em que um carro era para muitos anos, em que se possuíam menos coisas materiais, mas se enriquecia a mente com valores espirituais, onde havia mais respeito e dignidade, onde havia mais simplicidade e genuína felicidade!

Frei Betto termina seu excelente texto com uma referência ao filósofo grego Sócrates, que ao fazer suas caminhadas pelo centro comercial de Atenas, respondia aos comerciantes que o convidavam a consumir:

‘Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz’!

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 21/11/2010
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