QUERIDO PAUL: QUE SAUDADE DO SONHO!

Quando chegaste, Paul, com teus companheiros John, George e Ringo, eu começava a colher as flores iniciais da adolescência e era tão tenra que ainda não precisava sonhar, que ainda tudo era só presente e presença, e o futuro: que era o futuro? Nada, nada sobre o que uma garota se dispusesse a pensar.

Quando o sonho acabou e tu e cada um dos teus companheiros partiram para seus próprios rumos, eu já aprendera o sabor de algumas saudades e o agri-doce de alguns sonhos. Foi uma dor, Paul, uma dor grande presenciar aquela separação, mas, nada se compara à dor de ver a morte de John, uma década depois, uma morte absurda, até hoje impossível de digerir e de assimilar.

Yesterday o amor foi plenamente possível e o sonho se podia tocar com as mãos. Yesterday se quis e se acreditou em um mundo melhor com todas as forças da alma, da mente, do coração. Ah, Paul, os sonhos todos, que foi feito deles, da fé que tinhamos neles, Paul?

Mas, ontem, revimos o nosso menino. Com a voz mais frágil, mas o mesmo menino, com as mesmas músicas que nos encantaram os tempos de Primavera. Foi bom, Paul, foi de derramar lágrimas, lágrimas de amor,lágrimas de saudade pelos meninos que éramos então; lágrimas também de um prazer cheio de mistérios, o prazer dolorido de ver a própria vida desfilar diante dos olhos,como um filme visto pela primeira vez, o filme das nossas vidas já tantas vezes visto, visto de novo como em avant première.

Foi bom, Paul. Foi muito bom.

Zuleika dos Reis, na manhã de 22 de novembro de 2010.