Os sonhos que o tempo levou - BVIW

Era uma menina com olhos de cristal e pele aveludada. Usava brincos de vidro e vestido de cetim. Brincava de roda e, na roda gigante, sonhos dourados não tinham fim. Ensaiava o papel de professora com as bonecas, suas alunas. Amiguinha não tinha ali. Sua mãe a olhava e suspirava, parecia adivinhar o que viria a seguir.

Uma mulher com olhos gastos e língua ousada. Um ser frágil num corpo em frangalhos. Veste trapos e bebe gim. Na roda da vida é sobrevivente de tragédias acumuladas, ovelha desgarrada e perdida sem saber para onde ir. Ensaia passos trôpegos na calçada, cai na sarjeta e dela faz sua morada. Os outros passam e riem. E ela, que há muito tempo deixou de sentir, não acha graça, não acha nada.

O tempo levou seus sonhos, seu futuro, suas bonecas e a professora. O tempo levou a menina para longe de si. E hoje esta mulher desabitada não sabe se chegou um dia a existir.

Será que em algum raro momento, ao acordar, ela se pergunta onde deixou seus sonhos e como eles se perderam no tempo? Ou onde estão as vagas lembranças da sua história? Não acredito. Talvez seja melhor assim.

Os meus sonhos eu não deixo por aí. Guardo-os no verde dos meus olhos para que tenham sabor de esperança, para que com o tempo eu não os perca de vista e eles possam florir.



* Amigos, estarei fora até domingo. Abraços e obrigada pela presença em minha página.

Norma Suely Facchinetti
Enviado por Norma Suely Facchinetti em 22/11/2010
Reeditado em 23/11/2010
Código do texto: T2630026
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