O VELHO CUCO

O VELHO CUCO

Elizabeth Fonseca

Há lembranças que ficam gravadas na mente como relicário. Ao que me lembro do antigo relógio Cuco da minha tia, que na minha infância ficava horas a prestar atenção, quando a portinha do Cuco iria abrir para anunciar as horas.

Observava o pêndulo do relógio; duas bananas bastante pesadas, sustentadas por duas compridas correntes, que em sua outra ponta, tinha medalhinhas de Nossa Senhora. Conforme o batimento das horas, as pesadas bananas iam descendo, para depois as correntes serem puxadas; era a corda do relógio.

O relógio Cuco era lindo ... todo esculpido de folhas, com um cuco em sua parte superior, mais parecia uma casinha no tronco de uma árvore. A portinha fechada lembrava seu esconderijo, todo resguardado de segredos. Para sondar esse segredo, lá estava eu à espera das horas que iriam marcar. Completava os 60 minutos e a portinha rapidamente se abria. O cuco era a atração, principalmente quando dava meio dia, aí sim ... era um interminável cuco, cuco, cuco ..............cuco, cuco!

E novamente se recolhia, numa brincadeira de esconde-esconde.

Hoje, o velho cuco não canta mais, seu fole está desgastado, também pudera!.. havia passado por duas gerações. Primeiro pertenceu à minha avó; depois à minha tia, que estão me presenteou para fazer partes de minhas peças antigas. Hoje o cuco em minhas mãos não tem mais mistérios, nem segredos. Todos os dias e horas de minha existência já foram mostrados até aqui. O que ainda não sei, com as horas aprendi a esperar com a paciência de seus minutos infindáveis.

Na minha lembrança, somente a sua voz esperta, imitando aquele dos bosques da Europa Central, todo cinza de ventre branco; que coloca seus ovos no ninho de outras aves. Sua caixa envelhecida, ainda que recuperada com verniz, cinge as marcas do tempo, não contam mais as horas que eu ansiosa esperava, porque o tempo passou, mas gravou as lembranças de uma distante primavera, de um mundo de sonhos, ilusões, quimeras... fantasias que para sempre o tempo guardou.

Elizabeth Fonseca
Enviado por Elizabeth Fonseca em 12/10/2006
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