Como é prazeiroso comer. Comer obedecendo a um ritual. Primeiro a visão do prato. Engolir com os olhos antes da boca. Em seguida, o olfato se faz presente. E, um cheiro prolongado começa a preparar a degustação.
   Mas, ás vezes nem precisa o ritual. Nada melhor que encontrar uma manga caidinha no chão. E, se ela estiver em meio a folhas secas, certamente estará friinha, pronta para o abate. Nada de pensar em higiene. Uma mordida na casca e logo ela se despe, a polpa amarela aparece doce como mel. As mordidas se seguem, o caldo escorre pela boca num lambuzar indescritível. Uma lambida nos braços e nas maõs prolongará o prazer. Nem os deuses tiveram tamanho presente.
   Continuemos nosso passeio gastronômico. Uma tigela alva expõe nosso próximo alvo. Os grãos amarelos de milho imersos no leite de coco grosso, e como se já não bastasse, lá vem a canela polvilhada inundando tudo com seu cheiro marcante. A colher afunda no mungunzá que a boca mal espera para saborear. O paladar aguça, a saliva transborna na boca numa espera pelo primeiro bocado. E, uma após outra, as colheradas vão saciando a fome de prazer. Logo, restará apenas a tijela, mais alva do que nunca.
   E o que dizer dos oitizeiros? Na verdade, batizaram um bairro aqui de João Pessoa. No tempo, serviam apenas como sombra, agora nem mais. Outras árvores tomaram seus lugares. Restou apenas o nome do bairro que muitos nem sabem de onde vem. Afinal, seus frutos de nada serviam. Triste engano! Os oitís são dourados e têm um cheiro característico forte. Ao caírem eram ignorados pelos passantes. Na verdade, eles não existiam, eram invisíveis. Que pena! A fruta é travosa e massenta. Seu sabor, inesquecível. Quem já comeu um oití, nunca o esqueceu.
    Passemos a rainha das frutas. A mais exótica. Mangaba. A mangaba é nativa dos tabuleiros nordestinos. Ocorrem nas praias. Seu perfume é inconfundível. De cor amarelo-rosa, quando está no ponto, madura, cai. Daí se dizer " caiu de mole como mangaba" Uma procura sob uma mangabeira certamente será recompensada. Uma mangaba molinha, cheirosa, doce que mal resiste chegar á boca. Quem nunca provou uma mangaba é digna de pena. Mas, sempre há tempo. Mas, venham logo que estão dizimando impiedosamente nossas mangabeiras.
   Uma passada nas areias mornas das praias e lá estão os pés de guagirús. Rasteiros, de cor verde-escuro e folhagem dura e brilhosa. Um olhar mais aguçado e lá estão os frutos miúdos de um vermelho escuro. Os nativos da região saberão o quanto é saboroso um guagirú que fazem a festa da meninada nas praias. Sua polpa é fofa, branca, lembra algodão. Precisa mais?
    Bem, passaria horas e horas falando de comer, mas termino falando de algodão doce. No meu tempo, branco, hoje mil cores para seduzir. O formato lembra um floco de núvem. O palito que o sustenta, mal aparece dentro da núvem rosa, verde, ou azul. O lamber, acontece. E, é doce... doce. A boca não o detém e ele avança nas bochechas, no queixo, formando do rosto um doce único. A festa continua até que reste apenas o palito e uma sensação de criança nos toma. Um pedaço do passado acontece no presente.
      Abençoado seja o alimento que nos sacia a fome e o prazer!