Magia em alto-mar (2)

Esther Ribeiro Gomes

Devo confessar que gostei bem mais da viagem pela costa brasileira, no pequeno navio ‘Costa Marina’, do que no imenso ‘Costa Vitória’.

A viagem no 'Costa Vitória' pelas belíssimas ilhas do Caribe, rodeadas pelo magnífico mar turquesa, foi inesquecível!

Suas praias têm areias muito brancas que permanecem sempre frias, mesmo sob o sol escaldante do meio-dia.

Mas nos navios muito grandes, além da possibilidade da gente se perder, o ambiente é mais frio, mais formal.

Talvez tenha me decepcionado porque os passageiros eram estrangeiros (norte-americanos, alemães, etc.) e como não falávamos a língua deles (com exceção do italiano), não fizemos amigos, além dos ambientes serem literalmente gelados!

No 'Costa Marina', as refeições eram inúmeras: um lauto café da manhã, lá pelas onze horas uma degustação que sempre era uma massa diferente, depois o almoço com vários pratos, à tardinha um chá completo, à noite o jantar caprichado e, pasmem, à meia-noite um rodízio de pizzas!

Numa degustação pela manhã, o ‘Chef’ italiano nos ensinou a fazer ‘Spaghetti alla Puttanesca’:

Leva molho de tomate com azeite, alho, cebola, pimenta vermelha, anchovas (aliche), alcaparras e azeitonas pretas.

Ele nos contou a origem do nome do prato:

Havia uma italiana muito fogosa que era casada com um militar muito chato e exigente. As refeições tinham que ser servidas no horário certo e ele era cheio de manias.

Quando saía de manhã para trabalhar, o amante entrava pela janela e se deitava com ela na confortável cama do casal e ficavam se amando até quase a chegada do marido...

Quando o amante ia embora, ela ia fazer o almoço.

Um dia eles perderam a hora e faltava pouco tempo para o marido chegar. Então ela inventou essa massa rápida que passou a se chamar ‘Spaguetti alla Puttanesca’...

Quando o navio atracou no Rio de Janeiro, aconteceu um fato deveras inusitado.

Subiram a bordo um português lá radicado, sua esposa e uma neta.

Naquela época eu ainda era uma ‘jovem’ de quarenta e cinco anos, estava magra e elegante.

Havia feito uma dieta, porque em navio italiano ganham-se alguns quilinhos, diante de tantas delícias oferecidas...

Quando chegou a hora do chá da tarde, saí no terraço e vi meu marido caminhando lá embaixo no convés, então passei a chamá-lo, mas ele olhava para cima como se não me visse.

Eu o chamei várias vezes, mas ele continuou andando como se não fosse com ele...

Finalmente o encontrei e ele me disse que não tinha passado por lá, que há muito tempo estava me esperando no salão de chá!

Quando chegou a hora do jantar, o garçom da nossa mesa olhou espantado para o Dante, como se estivesse tendo uma visão!

Então o mistério foi desvendado, o homem que eu chamei na hora do chá não era meu marido, mas o português que havia embarcado no Rio!

Eles eram idênticos, pareciam irmãos gêmeos: um italiano e o outro, português...

O garçom nos contou que quando o sósia do Dante sentou-se em outra mesa com outra mulher, ele pensou:

‘Nossa, seu Dante errou a mesa e quem é essa senhora gordinha que está ao lado dele? Cadê a D. Esther?! ‘

Mais tarde, na boate, um casal de amigos que havia chegado antes de nós, viu o ‘sósia’ do Dante dançando com aquela senhora idosa

(meu marido era vinte anos mais velho que eu) e ficaram intrigados...

Mais tarde, quando chegamos, brincaram conosco:

Dante, quem é aquele senhor igualzinho a você?!

Pensamos que você tinha trocado de mulher...

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 23/11/2010
Reeditado em 26/11/2010
Código do texto: T2632494