Os Magníficos Pombos

Os Magníficos Pombos

Vejo-os, da janela do meu quarto, em vôos rasantes e arrulhos sucessivos dos machos cortejando as fêmeas.

Os pombos são os pássaros mais emblemáticos da ornitologia e, ao mesmo tempo, os mais domésticos, urbanos e contraditórios conviventes do homem.

Não sou especialista em columbofilia, mas li muito a respeito da criação dessas aves e do fascínio que os pombos exercem sobre os seus criadores, pelas suas virtudes e suas utilidades.

Desde os tempos remotos, até os tempos atuais, os pombos selvagens e domésticos são analisados como criaturas de poderes extraordinários, tanto pela sua resistência para vôos de longa distância quanto pela sua acuidade visual, além do sabor de sua carne.

Considerados mensageiros de Deus, eles se transformaram em mensageiros dos homens, carregando em seu pequeno bico minutas de decretos e decisões de imperadores, mensagens românticas de casais apaixonados, recados comerciais e até o capim que informou Noé a respeito do fim do dilúvio.

O pombo-correio não parte; ele chega, pois é treinado para voltar ao seu viveiro, onde estão sua família e o seu criador, com alimentos. Vencendo longas distâncias geográficas, superando montanhas e rasgando mares, eles possuem um senso de orientação extraordinário, mais preciso dos que instrumentos como a bússola e o astrolábio.

Na indústria, são treinados para detectar falhas em sistemas complexos de eletrônica e informática, comunicando, com suas bicadas instintivas, o problema a ser sanado, isso graças á sua acuidade visual.

Na culinária, quem nunca ouviu falar no pombo-assado, em receitas mirabolantes, para consumo nos banquetes mais faustosos dos reis, nobres e burgueses. Até hoje, sua carne é servida em restaurantes sofisticados do mundo inteiro, consumo estimulado em grande parte pelo Império Romano.

Em alguns países, principalmente do oriente Médio, onde a criação de falcões é uma arte praticada pelas famílias reais, os pombos são utilizados – coitados! - como cobaias. Falcões adoram devorar pombos, e a velocidade de fuga do pombo é um excelente fator de exercitação do falcão, o mais veloz predador do mundo.

Na literatura, são tantas as citações desses magníficos pássaros, que me limitarei a mencionar a homenagem prestada pelo poeta e jornalista maranhense Raimundo Correia (1860-1911), “o maior artistas do verso”, em sua poesia “As Pombas”, onde compara o vôo das pombas aos primeiros sonhos que desabotoam nos corações dos jovens: “Mas, as pombas aos pombais voltam; e os sonhos aos corações não voltam mais...”

O extraordinário instinto de sobrevivência, pelo menos no Brasil, trouxe todas as espécies de pombos para as cidades. No Brasil de algumas décadas atrás, as pombas-juritis, as verdadeiras, as rolinhas, etc., que eram aves preferidas dos caçadores e viviam ariscas nas matas, raramente eram vistas nas cidades. Hoje, disputam com pardais e outras aves a comida que sobra nos restaurantes e nas praças públicas, onde se reproduzem com facilidade. O combate às pragas da agricultura e o próprio desmatamento expulsaram muitas aves e animais para as cidades.

Sempre direi aos meus filhos e netos: Não deixem de observar com atenção o comportamento dos pombos, pois com eles temos muito a aprender. Um pouco diferente do que disse minha mãe, quando eu era criança e falei que tinha vontade de criar pombinhas, como o menino vizinho: ”Deixa disso, menino. Isso só traz piolho!”

Realmente, os pombos carregam piolhos e outros parasitas visíveis, que podem ser transmissores de doenças. Infestando praças e residências aos bandos, os pombos podem se transformar em ameaça à saúde pública.

Mas, eu não quero saber disso... Estou com os pombos e não abro...

Feichas Martins
Enviado por Feichas Martins em 24/11/2010
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