A classe média

A classe média tem desejo de sangue. Nervosa, late como um cão enfurecido quando se vê ameaçada em seus direitos tão “arduamente” conquistados. A classe média, aquela antiga, que alimentou o capitalismo editorial, se refestela em sua cultura padronizante e limitada. A classe média, aquela que se alimenta com os regurgitos das elites, jura que a vida é bela e o mal são os outros. A classe média, aquela covarde, tem medo do preto e do pobre, dos "bandidos" surgidos da desigualdade social. A classe média, tadinha, só quer continuar a existir. Tensionada como uma corda prestes a se romper, a classe média se defende e grita aos quatro ventos que não tem culpa de ser o que é.

A classe média, hipócrita, perpetua as disparidades brasileiras ao mesmo tempo em que se compadece do coitado da esquina e das crianças das favelas. A classe média, aquela compadecida, estende a mão e cria ONGs enquanto duplica sua renda em investimentos. A classe média, aquela fingida, consegue cuspir na cara enquanto dá um tapinha nas costas do amigo. A classe média, aquela do arrego e do jeitinho, condena a corrupção ao mesmo tempo em que elege os estandartes da sonegação. A classe média, aquela fedida, emana L’eau d’Issay.

A classe média, aquela que sonha em ser elite, preenche os bancos das escolas públicas. A classe média, aquela dúbia, jura de pés juntos que os direitos humanos devem ser respeitados. A classe média, aquela sonsa, tem seus herdeiros revolucionários morando em bairros nobres. A classe média, aquela alienada, tem seus filhos consumidos pela culpa católica de possuir herança. Divididos pelas leituras de Marx, a maconha do Arará e o desejo infantil de revolução, eles atiram para todos os lados os chavões das ciências humanas enquanto os padroeiros de seus pais faturam mais alguns trocados em cima de algum pobre coitado.

Como uma primma donna, a classe média é bajulada, mimada, satisfeita em suas necessidades para não chiar e conseguir atingir as maiores notas lá no centro desta ópera que é a vida política brasileira. A classe média, aquela nojenta, perdida entre seus delírios de consumo, sustenta a economia nacional.

A classe média, o centro das atenções, amada, odiada, polêmica. A classe média somos todos nós, e ela está cansada.

JaquelineS
Enviado por JaquelineS em 26/11/2010
Código do texto: T2638573
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