[Conflitos entre damas e cavalheiros...]


Certas coisas lembram amores na adolescência: Num canto com grilos... o choro por causa de alguns galos na testa, os sons melosos e excessivamente românticos nos momentos platônicos, um ou outro filme dentro de um suspiro saudoso, fotos e recados amarelados e o sentimento de falta da voz de alguém... repito, certas leituras lembram a adolescência.

Naquela época que não se sabe aonde se iniciava a confusão na dor, nas marcas das ilusões na paixão, quando se pensa que já se sabe um pouco do amor... no meio da ausência da percepção das cobranças exacerbadas (puro treino isto sim, apesar das re cla ma cões)

a. Ela acha que ele nunca se importou o suficiente com ela e se não o fez com ela que era dedicada, nunca se importará com outro alguém;

b. Ela acha que ele nunca sentiu dor semelhante a sua e acusa o objeto de desejo de machucar (por que ele nunca se frustra?);

c. Ela acha que a culpa do relacionamento não ter dado certo não cabe em seu próprio histórico;

d. Ela exige que ele a valorize mais e mais, e não percebe que ela não se valoriza;

e. Ela até hoje profetiza que ele nunca terá experiências “tão maravilhosas” (sem ela) e que ele nunca será capaz de aprender ou amar alguém (como se ele não tivesse emoções);

f. Ela acha que vai morrer de amor porque ele é “seu” amor eterno (e não admite que possa estar doente);

g. Ela dramatiza, diz estar na angústia da incompletude, mas não move uma palha para ver que o presente abre novas portas...

E vice-versa de “a” à “g” também para ele que ainda não reconhece os mesmos sentimentos de imaturidade citados acima.

O verdadeiro amor nos livra do orgulho, afinal não somos tão sábios...

"Todo amor é eterno. Se não é eterno, não era amor."  Tenho impressão que para escrever isto Nelson Rodrigues estava de porre na lua (a frase não deixa de ter algo de bonito) pois nos joga bem diante da energia gasta até aquele ser eleito: “o nosso eterno amor”.

De modo geral procuramos vender o peixe conforme aquilo que acreditamos... sentimentos de cumplicidade somente nascem quando o casal traz uma sincera disposição em confiar um no outro, contamos segredos para alguém quando não temos medo de sermos julgados, existe uma grande diferença em ser companheiro e em se sentir como se fosse uma propriedade; muita gente cobra cumplicidade mas ainda não sabe muito do que se trata, a cumplicidade é construída a partir do emocional não do físico, compreender o gesto de outro tem a ver com a capacidade de se colocar no lugar do outro e caminhar junto mantendo sua identidade. Se na cama há momentos em que os parceiros vão descobrindo automaticamente como agir,  interagir e se deixar... por que fora dela existem casais não compreendem o momento de calar ou não um pensamento (para que magoar?!)

Por que somos carinhosos entre quatro paredes, e às vezes nos relacionamos no dia a dia com mau jeito? Sim, não é fácil dizer “não” na hora certa, dar o braço a torcer quando estamos errados e perceber que temos mil coisas para mudar, por que podar a individualidade alheia se não gostamos de ser controlados e/ou sufocados?

“Let it be” …deixe, faça acontecer...

Quando as pessoas enxergam muito pouco, dentro de si mesmas, o que define o amor?

Quando o “drama” corre solto, onde está a auto estima? O verdadeiro amor nos faz olhar o egoísmo de forma mais centrada.

Sábio foi este anônimo neste pensamento feliz: "Se você ama alguém, deixe-o livre. Se ele voltar, é seu. Se não, nunca foi." Aquelas lascas de memórias contém amor? Por que pessoas que pensam que estão crescidas se satisfazem com muito pouco? Existe amor eterno? Até que ponto o ser precisa daquele outro para “se completar”?

Atração física é o primeiro passo mas será que esta sempre se transforma em amor?

Não é fácil admitir, mas o ser humano insiste no mecanismo da negação em pleno estágio de  "trabalho de luto", na melancolia, pode existir a busca de traços semelhantes daquele ("ex" que o descartou) objeto de desejo em outro, não sei se teoricamente fantasiar um andamento de um relacionamento que teve um corte de uma das partes é funcional... seria como viver dentro de um platonismo adolescente, "neste não querer um novo alguém" (somente há a vivência da rejeição, do que frustra do que empurra para um passado que não voltará mais).

É diferente, alguém passar pela ruptura de um relacionamento (levar "um fora") do que ambas as partes se afastarem "numa boa" em busca de um amadurecimento interno.

Tenho uma teoria bem objetiva: quando o termo ex é utilizado por ambas as partes o caso está REALMENTE encerrado.
 
Para amar não basta um só, pessoas tem necessidade de  troca; ninguém vive na ilusão... apesar de muita gente alimentar fantasias, movimentando as energias de forma errada.

Quem é feliz se sentindo como se fosse um estepe e/ou uma muleta?

Sábio também continua sendo parte de um dos sonetos de Vinicius de Moraes: [...] “que seja infinito enquanto dure”

Ela pensava que era o supra sumo e mal se olhava no espelho nua, e ele não percebia que não é apenas o falo que dita o poder entre as pernas.

“Let it be” …deixe, faça acontecer...

O verdadeiro amor nos faz olhar as coisas com menos vaidade.

Por que se espera que os outros sigam as nossas idealizações?
Ela julga que ele tem um coração de gelo porque na verdade ele nunca a amou ou teve por ela paixão.
Ele julga que ela tem um coração de gelo porque na verdade ela nunca o amou ou teve por ele paixão.

Se existiu “dureza” no coração é porque simplesmente naquela relação não havia a correspondência desejada.

O verdadeiro amor nos faz olhar as coisas com maior clareza.

Atenção: Você pode até entrar na história do outro, se condoer... procurar auxiliá-lo num certo ponto, mas não se ver paralisado (afinal cada qual tem a sua vida).

 Lembro-me de uma paciente que toda sessão recriminava seu pai, segundo ela um mulherengo inveterado que por pouco não teria enlouquecido sua mãe; acusá-lo de infiel e entrar numa descrição infinita da própria insegurança era bem mais fácil... não notava que seu ciúme estava tão acentuado que não deixava sua suposta “alma gêmea” em paz (tipo de pessoa que vasculha correspondências, bolsos e não desgruda um só instante). Nem com  todo aquele convívio paterno e materno será que ela não percebia que seu pai de certa forma era um mestre?
Reflexo de uma pessoa que vive patinando em ilusões, quando cessava o desejo pulava para outro galho e no vazio se encontrava com outra companhia a bebida (prisioneiro num mundo de mentiras).
Quanto a figura materna? Depois de tudo que está escrito por aqui podemos supor que no mínimo aquela mãe estivesse precisando passar por algum sofrível aprendizado para crescer.

...recordando que não se pode mascarar a "febre" com falsos remédios na existência de um amor doentio...  há de se ter coragem para combater a infecção.

Rosangela_Aliberti
Atibaia, 25 de novembro de 2010.

The Beatles - Let It Be 
http://www.youtube.com/watch?v=I9VUh839Zgo

Foto: Haruo Ohara