A Morte

Normalmente a idade nos aproxima da morte. A senilidade pede muita reflexão e nós acabamos por entender melhor o místico e o natural sobre ela.

Do Ego enfraquecido aos motivos primevos do endo e do exocanibalismo, a morte está vivíssima em nosso cotidiano, causando do medo à indiferença. A negação da morte por parte dos seres humanos nasce com a própria construção do túmulo, assimilando a crença de que há, realmente, algo a ser guardado. O homem quando saiu do coletivo e se individualizou, passou a dar à morte o valor que ele achou merecido.

Ignorar a morte é talvez uma das formas de temê-la e muito. Pô-la no avesso de nossas práticas diárias do entendimento é cômodo. Discuti-la é talvez além de assombroso. Não foi atoa que o homem criou os deuses pagãos e se pôs entre eles a solicitar sua imortalidade.

A natureza cria suas próprias distinções. Os macacos beduínos carregam nas costas os seus mortos até cair seu último pedaço, como se fazê-lo fosse importante para eles. Encontramos nos animais irracionais e em nós homens, a irrupção orgulhosa da individualidade e daí o apego à morte enquanto fim crido!

Por amor ao risco o alpinista se lança aos perigos que lhe aproxima da morte. O suicida sanciona sua solidão e egoisticamente se distancia das dores mundanas. Podemos ver e entender a morte por vários prismas. De forma lúdica, onde vemo-la por ela simplesmente; moral, pela honra e na preservação do velório; social, quando ficamos diante dela pela Pátria,nas guerras que, irresponsavelmente, construímos. Antes de tudo isso se coloca a morte natural das espécies.

Todas as vezes que estamos vivendo irresponsavelmente, assumimos o risco de morte. Alguém já falou que “a poesia é a magia do verbo”. A emoção profunda alimenta a crença na morte. Há casos onde o medo da morte se acentua, assim quando um escritor aguça a volúpia em assassinaras suas personagens, as que ele acaba por criar. Seria a morte/renascimento? Esmagar o mito da morte é ressuscitar. A cultura é um valor determinante da individualidade. As civilizações antigas só começaram a temer a morte quando saíram do coletivo e se tornaram indivíduos.

Lembrei-me bem, neste exato instante em que teço esta crônica, de Kant, quando ele diz que o mundo é um produto do homem, contradizendo ao que Hegel defendia, que: o mundo é produzido para o homem. Daí entendermos a força que acultura exece sobre um povo. Poderíamos até dizer que a morte é uma espécie de perpétuo holocausto para o ser humano.

Vuillemin (op.cit.p.285 ) “ A morte empírica é necessária para que oamor tome consciência de si mesmo. O amor nega o egoismo, mas ainda é preciso que esta negação fique evidente através da morte.” Já Feuerbach disse: “ Nossa morte é o ato supremo de nosso amor” E por fim, após acharmos a nossa crença nela nos abutres de Prometeu, temos mesmo que debulhá-la até a sua última casca, acaso os anos de vida nos permita uma densa reflexão. A morte é algo inconfessável, segredo entre tantos que nãos e arriscam em publicar.

Para nós Cristãos, já que somos feitos da substância de Deus, ela é apenas um acontecimento que pode nos transportar para a vida eterna. E então, enquanto escrevo, sou Ghost de mim mesmo e dissimulo minha sobrevivência, como se a morte fosse bem menor que minha fé na eternidade. Entre um Deus e um herói eu revivo. Exalo uma inesquecível queixa: não desejo morrer. E entre atos e fatos, findo esta crônica lembrando-me do herói Hércules: bastardo, Hércules pode habitar o Olimpo dos deuses, permitiu-se pela força do braço e lá permaneceu. Enfim, um que não era deus, fez-se assim e habitou entre os outros imortais. Laicizar a crença na morte nos faz entender melhor o que ela tem de mais profundo.

E como disse Schopenhauer “ Sem a morte, seria até difícil filosofar”