sinfonias subconscientes # 2

gabriella calling

na realidade e em meus sonhos, ela é com toda certeza a mais sexy das garotas "tangíveis", ou reais.

estávamos num bar meio vazio, debaixo de uma semi-luz trêmula, e ela se perturbava. mexia nas unhas e no cabelo constantemente, era observada por alguns homens indiscretos e odiosos. ela olhava fixa e paranoicamente para o pão na cesta da mesa, quase chorando. um dos idiotas pegou o pão da nossa mesa ao passar, e ela então apontou a cesta vazia com um olhar de terror e desespero. levantei-me imediatamente.

- vai devolver a porra do pão ou não seu filho da puta eu te mato desgraçado escroto maldito, e assim fui usando de toda minha calma e educação para me entender com o sujeito. ele parecia não se importar comigo e nem compreender a situação.

- se você quer pão pode pegar ali, cara, o louco me respondeu com olhos negros e brilhantes de cão perdido.

- não quero não porra, caralho, me dá essa merda aqui, e tomei de suas mãos o pão, indo embora. voltei e empurrei o filho da puta contra a parede com toda a minha força, segurando com a outra mão um punhal escondido em minha cintura. nem assim o cara reagiu, então tá.

gabriella lacrimejava na mesa, estática. entreguei-a o pão e ela comeu, automática e sem olhar para os lados. fazia um bom tempo que não a via tão estranha. levei-a para minha casa, ela se deitou na cama. usava apenas uma camisetinha branca bem curta e a parte debaixo de uma lingerie azul escura. estava mais magra do que me recordo, mais fraca, quase infantil. seus olhos verdes estavam enormes e fantasmagóricos, não me permitindo saber onde estavam nem para onde ou para quais alucinações aquelas pupilas dilatadas a levavam... quais loucuras sua alma vislumbrava, não poderia jamais sequer imaginar...

tudo que ela precisava era de proteção. deitei-me ao seu lado. ela me abraçou com os braços, as pernas e toda força que restava em seus músculos; me senti invadido pelo amor mais triste e puro com o qual se pode sonhar. ela agora chorava de verdade, seu corpo todo tremia junto ao meu, sentia suas lágrimas me esquentando o peito como dois pequenos isqueiros acesos; ela balbuciava palavras que não entendia. abracei-a com toda a calma e controle que tinha de demonstrar. não sei por quanto tempo ficamos assim. ela tomava cada vez mais fôlego, demorando cada vez mais. fez isso umas quatro vezes e tirou seu rosto do meu peito, tocando-me com seus dedinhos frágeis e pálidos, querendo chamar minha atenção. olhei pra ela, sério. tive um certo desconforto ao pensar o que aconteceria agora, embora minha figura masculina nada disso demonstrou.

os olhos de gabriella eram uma floresta em chamas ao nascer do sol. no canto dos lábios de vampirinha um esboço de sorriso.

- eu te amo, e beijou-me o pescoço com serenidade. usava um corte de cabelo mais curto que o usual, assim que começou a retomar sua sobriedade me lembrou adriana calcanhotto. "você em troca cede o seu olhar sem sonhos...", cantarolei em seus ouvidos. ela se ajeitou em meus braços e dormiu.