POR TRÁS DO MURO DE PALHA


Por trás daquele muro de palha apenas uma mulher calada , uma cadeira vazia, um livro de poesias aberto onde se lia “Eu te dei a minha vida e você me perdeu”, debaixo de um céu estrelado e uma lua cheia. Tinha a sua história, os seus conflitos a mulher. E ali, na sua fortaleza e isolamento consentido, sentia-se cansada e farta de suas sottises -por conta de um amor mal resolvido- vivendo às turras consigo mesma, tentando descobrir a natureza última da realidade. Movida pela solidão começou então, a duvidar de sua sanidade mental...Não, ela era um ser normal, não podia ser louca! Só porque alguém assim a considerou! Repetia pra si. Já havia lido sobre a loucura, que entre outras coisas, pode ser vista como confusão, agressividade ou frustração demais, como desenvolvimento defeituoso, como espera insuportável e como falta de esperança.É certo que ela não sentia todas essas coisas, apenas era assaltada por um sentimento de espera que não acontecia e que a esperança em si também já não existia. Mas daí a ser louca não se aceitava como tal. Sim, com certeza tinha plena capacidade mental, (assim imaginava) era capaz de suportar as tensões, de reconhecer as implicações éticas, de ter consciência dos limites, de ter quantidade certa de emoções.
 
E quedou-se a pensar...Se era um ser apaixonado e via-se assaltada pela dúvida de sua sanidade mental, não seria a paixão regulada pela loucura? O que é que distingue o ser normal de um louco? Por acaso o ser normal se guia pelo raciocínio e o louco em tudo pelas paixões?

...E enquanto buscava respostas para suas indagações se pôs a olhar para o céu contar estrelas e jogar pedra na lua...
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 01/12/2010
Reeditado em 11/12/2010
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