O CÚMULO DA INSENSATEZ
Conta-se que, certo rapaz sem grandes predicados, apresentou-se a um conceituado mentor e manifestou o desejo de ser ordenado rabi.
O mestre interrogou-o sobre o seu procedimento cotidiano e, o candidato, em pueril volubilidade, alegou a seu favor, as seguintes virtudes:
- Visto-me sempre de branco; bebo só água; prego cravos em meu calçado para me mortificar. E faço mais ainda: deito-me despido na neve e mando o zelador da sinagoga dar-me, todos os dias, quarenta chicotadas nas costas.
Naquele momento um cavalo branco entrou no pátio, bebeu água e estirou-se no chão coberto de neve.
- Repara, aconselhou o mestre, batendo no ombro do jovem - Repara! Aquele animal que ali está é branco, bebe só água, tem cravos nas ferraduras, deita-se na neve e apanha mais de quarenta chicotadas por dia. Entretanto, não passa de um simples cavalo...
Como descrever a insensatez que caracteriza muitas pessoas? Como explicar certas atitudes que deixam transparecer pequenez de espírito?
Pessoas inseguras, incompetentes, que desconfiam até da própria sombra, transformam num inferno a vida dos que as rodeiam, pelas suas maneiras de agir, querendo ser o centro das atenções em todas as circunstâncias.
Recalcadas, tornam-se malévolas, julgando sem importância o que não tiver a autoria das mesmas. Somente suas idéias tem valor e, não adianta contestar decisões que tomam.
São do tipo: Aqui mando eu! Aqui sou respeitado!
Quando na verdade se poderia dizer delas: Não são respeitadas, são temidas e, não raro detestadas...
A obediência deveria estar intimamente ligada ao respeito legítimo e não ao temor.
Todavia, tais indivíduos não se dão conta de que estão sempre rodeados de bajuladores, os populares "puxa-sacos", os quais permanecerão às suas voltas enquanto seus interesses forem mais ou menos atendidos; porém, caem fora, rapidamente, quando acabam suas motivações ou seja, quando mínguam as benesses a eles concedidas...
Criaturas deste tipo quase sempre ficarão sós, não terão amigos verdadeiros quando necessitem, pois os tapinhas nas costas e os abraços efusivamente recebidos são, com certeza, falsos.
Aí reside o motivo básico da insegurança, da desconfiança e de toda idiossincrasia que portam, fazendo delas criaturas insuportáveis, agindo por impulsos momentâneos, com inúmeras variações, ora calmas, vezes outras violentas...
Por estas razões, a visão é exígua, enxergam tudo por um prisma distorcido, irreal, portando continuamente idéias pré-concebidas, avistando somente maldade onde existe bondade e, tornam-se insensíveis, incapazes de gestos de generosidade pura, adotando atitude dissimulada, fazendo sempre de maneira calculada algo que possa parecer lídima bonomia. Tudo aparência...
Ao perscrutar a história de suas vidas, encontrar-se-á cardos e espinhos semeados ao longo dos anos. Possivelmente legião de inimigos; conseqüentemente, pequeno número de amigos verdadeiramente leais...
Colherão, sem nenhuma dúvida, o resultado da semeadura livremente efetuada, apesar de, às vezes, em recebendo intuições, pressentimentos de que agiam de forma equivocada, abafavam as mesmas e chafurdavam-se cada vez mais no lodo de sua própria insanidade, pensando apenas no momento presente.
Entrementes, o futuro espera a todos... Ninguém fugirá. As ações acompanham seus autores...