O COLÉGIO - II

Agora, que nos tínhamos mudado de Botafogo, o colégio no qual fui matriculada tinha o nome de "Belizário de Souza". Localizado em Campo Grande, distava de Realengo cerca de meia hora.

Apesar da mudança radical - sair da zona sul para a zona norte deixando para trás as amizades de infãncia, adejava no ar um certo perfume de novidade. A começar pelo meio de transporte fora do comum: andar de trem, e andar sozinha! Livre, enfim, do antiquado ônibus escolar e das exageradas recomendações de minha mãe: "... cuidado com o vento... fecha a janela..."

Por outro lado havia, também, uma expectativa muito grande em relação à nova escola: mista, administrada por leigos, completamente diversa da anterior que era só de meninas e dirigida por religiosas.

O Dr. Helton Veloso, diretor, era presença constante quando entrávamos em forma no pátio antes de seguirmos para as salas de aula. Dentre as preleções, conselhos e manifestações didáticas com que nos brindava, recordo-me destes: "não se diz meio dia e meio; a forma correta é meio dia e meia, isto é metade do dia mais meia hora; a roupa depois de lavada e posta ao sol, não está ali para quarar, mas para corar, para tomar cor." E prosseguia por aí afora com outras preciosidades do mesmo gênero.

Para alcançar Campo Grande eu pegava o trem em Realengo por volta das 11,30 da manhã. Nesse horário eles trafegavam bem vagos, não existia aquela correria e empurrões que acontecia na hora do rush. Quando voltava, lá pelas 17,30 também não havia problema pois o percurso era feito no sentido inverso do movimento e nós, estudantes, éramos realmente os donos dos vagões.

Os trens que partiam da cidade com destino a Campo Grande passavam por inumeras estações, mas paravam somente nas seguintes: Engenho de Dentro, Cascadura, Madureira, Marechal Deodoro, Magalhães Bastos, Vila Militr, Realengo, Padre Miguel (da sempre vitoriosa Mocidade), Bangu (de Zizinho e da fábrica de tecidos), Senador Camará, Santíssimo e Augusto Vasconcelos. A seguir vinha Campo Grande e daí eles retornavam ao centro. Havia alguns que prosseguiam até Santa Cruz (da Base Aérea), e outros que iam mais longe ainda, até Mangaratiba. "Oi, lá vai o trem rodando estrada arriba pr'onde é que ele vai?"

Dessa maneira o Colégio Belizário de Souza passou pela minha vida. Passou tão ligeiro que quase não deixou marcas. Durante o tempo em que frequentei-lhe os bancos escolares, sequer houve um acontecimento digno de nota. A menos que consideramos como tal o noivado da professora de canto orfeônico com um dos alunos. Pode?