A primeira vez

                                      Palavra, porque me inflamas
                                      Com avidez a mão e a fronte?
                                      Se te deixo, em pensamento,
                                      Retornas a todo instante.
                                      No papel me contradigo...
                                      Bom grafite, mau diamante!
                                      Palavras me revigoram
                                      Com lucidez desconcertante.

 

Caro net book, aliás, caríssimo net book, seja benvindo à aventura pelo mundo das letras. Muito tempo já passou desde que escrevi a lápis uma letra por página no pequeno caderno Veleiro e, assim espero, muito tempo passemos nós como companheiros de letras. Era aquele um caderno fino, com aproximadamente vinte páginas, capa em brochura de cor branca com o desenho em marinho de um veleiro.

Outra vez o "B" maiúsculo é traçado com o lápis seguro na palma da mão direita, abraçado por todos os dedos, na certeza frágil de ter alcançado antes da escrita o aprendizado da leitura. Considerando o tema para casa a que me dedico deixo as lembranças da leitura pare outra ocasião e falo apenas da escrita. A letra era treinada em caderno de caligrafia, pois letra bonita, por si só, era objeto de orgulho. Os professores nos davam nota “A” com estrelinha, como eu costumava brincar com argila, em uma olaria defronte de casa, era dona de caligrafia cursiva impecável. O mesmo efeito outras crianças obtinham com a massinha de modelar.

Nós escrevíamos a lápis em cadernos de papel; os professores, com giz branco, no quadro, também chamado quadro negro, que na verdade era verde. Sei que hoje o quadro é branco e nele se escreve com pincel atômico. Virá o tempo em que será considerado obsoleto escrever a lápis ou à caneta; serão fadados à nostalgia os vários cadernos de papel: de escrever, de desenhar, de aprender as notas musicais, com suas páginas pautadas, quadriculadas, transparentes e com o maravilhoso cheiro de material escolar novo.

Talvez não sejam fiéis à realidade estas lembranças – possivelmente nenhuma seja-, mas são reminiscências de alguém que encontrou nas letras alheias o estímulo das indagações que inflamam a mente e a virtude das respostas que despertam outras e, nas suas próprias, a calmaria que não é encontrada em nenhuma outra experiência.

Hoje, como então, além de um local para escrever o caderno é um parceiro de aventuras na escola e fora dela. O caderno eletrônico, utilizado também para leitura, é levado para a aula, onde se grava as vozes dos professores e colegas, se digita o que é ouvido, além de projetar imagens, gráficos e textos. É caderno de alunos e professores, pois não é verdade que nesta vida com a mesma escritura que se ensina também se aprende?

Assim, querido Freddy, meu caríssimo caderno eletrônico, fomos apresentados e você conheceu um pouco do meu começo nas aventuras das letras. Até pensei que teria que afinar as pontas dos dedos em um apontador de dedos, semelhante ao apontador de lápis, para me dar bem com você, tão pequerrucho, mas não foi necessário. A tela pareceu-me pequena demais, à primeira vista, mas vejo agora que tem o tamanho perfeito para a diversão encantadora de dar asas à imaginação por meio da palavra.