Vestidos e lembranças

Dia estafante. Muito trabalho e quase nenhum tempo sequer para respirar, mas finalmente estava em casa.

Depois de descansar um pouco, tomou um demorado e relaxante banho. Estava toda animada, pois finalmente chegara o dia do tão esperado jantar romântico que há tempos marcara com seu noivo. Ambos não se importavam com esse tipo de coisa, mas fazer um agrado desse tipo sempre é bom, e todo mundo gosta, certo?

Assim que saiu do banho, vestiu suas roupas íntimas – especiais para aquela ocasião, mas quando abriu seu guarda-roupas para escolher um vestido, simplesmente estacou. Uma onda de cores e memórias atacou sua mente.

Ela tinha vários vestidos e, conforme o escolhia, vinham em sua cabeça alguns dos momentos que passara com ele.

O branco: Um vestido básico. Foi com esse vestido que, a convite da irmã, foi em uma festa debutante e encontrou lá um rapaz. Um homem elegante, educado, mas que com o passar do tempo, foi se mostrando frio e indiferente. Era mais fácil se receber atenção e carinho de uma pedra de gelo. Mas mesmo assim era seu “namorado”, e não queria perdê-lo. Estava disposta a superar quase tudo, até mesmo as traições e as cantadas que jogava em cima de sua própria irmã, que era casada.

O roxo: Com alguns detalhes em tom lilás, é um vestido de comprimento médio, não chegando muito abaixo do joelho. Estava vestida com ele quando sentiu uma indisposição, náusea e vertigem. Por idéia de sua irmã comprou um daqueles testes de farmácia e descobriu que estava grávida. Na ocasião fazia apenas algumas semanas que estava separada daquele que um dia foi seu namorado.

O azul: Tomara que caia com uma echarpe muito bonita, realçando seu colo. Encontrava-se com ele numa festa com seus amigos quando de relance, vê aquele seu ex-namorado nos braços de outra mulher. E ela o vira de uma maneira que há muito tempo não o via mais. Com um sorriso no rosto. Realmente feliz. Como se aquela fosse a mulher que ele estava esperando há muito tempo.

Foi nesse dia que decidiu rumar sua vida para frente, pois até o momento parecia estacionada por alguma força oculta... por alguma coisa que não queria se soltar.

O verde: Vestido curto. Melhor para festas durante o dia. Com um tecido fino, ele é perfeito para dias quentes. Ela estava com esse vestido quando encontrou um outro homem. Aparentemente não tinham muita coisa em comum, mas o interesse de um pelo outro foi aumentando, de acordo com a conversa que se desenrolava. Uma hora ou outra alguém ficava quieto, sem saber muito bem o que falar. Mas isso é comum em qualquer conversa.

O preto: Elegantíssimo, porém sem muitos detalhes. Estava exatamente com esse vestido quando ela e seu novo namorado foram a uma festa de casamento de uma das amigas dela. Ele não falara nada, mas sabia que ela estava simplesmente deslumbrante naquele vestido. Quando a viu pela primeira vez, seus olhos se iluminaram, como se estivesse vendo um corpo feito totalmente de luz.

O vermelho: Um vestido longo, de frente única que seu até então namorado a presenteou. E aquele não foi o único presente daquela noite. Depois daquele vestido, a noite ele a convidou para um jantar. Aparentemente nada muito especial. Mas foi lá que, no meio do prato principal, ele se ajoelhou e tirou de um dos bolsos um anel de diamantes e a pediu em casamento. Ali mesmo, no meio daquele monte de gente desconhecida. Ela ficou um pouco emocionada, mas por fim acabou aceitando.

E agora, com todos aqueles vestidos e aquelas lembranças ela olha para o relógio em seu criado mudo. Se assusta com a hora, mas sem nenhuma pressa pega um rosa, o veste e deita em sua cama com as luzes apagadas.

Ela ficou tanto tempo tendo lembranças do passado que se esqueceu de viver seu presente. Mas agora é tarde demais, pois já estava atrasada, e provavelmente seu noivo já teria ido embora. Então decidiu colocar seu pijama rosa e dormir.