62,5%

Os deputados – parlamentares em geral – têm a prerrogativa de aumentar os próprios salários. Além de outras prerrogativas como carro oficial, gabinetes com funcionários em cargo de chefia à sua disposição, selos para correspondências pessoais, “mimos” em dinheiro (ou outros tipos de “mimos”) para aprovação de projetos/leis do interesse do executivo (Municipal, Estadual ou Federal), etc.

Que outras categorias de mão de obra – queria dizer produtiva, mas será que os políticos são mão de obra produtiva? – dispõem dessas vantagens? Nem os empresários bem sucedidos ou os atores ou desportistas famosos. Ainda assim, segundo se noticia às vezes, há políticos que se envolvem com o tráfico de drogas, de armas, com milícias, grupos de extermínio e outros ilícitos porque contam com mais uma prerrogativa – a impunidade que lhes é concedida pela imunidade parlamentar.

Essa é a realidade brasileira. Realidade que talvez só encontre paralelo em países da África desassistida, da América Central (México, por exemplo) e da América do Sul (Paraguai, por exemplo).

As pessoas que conseguem a invejável condição de se acharem investidas de um mandato parlamentar podem se considerar pequenos reis. E é por isso que todos almejamos um cargo político. É mais do que natural. Hoje no Ocidente, como também no Oriente, em que atribuímos ao deus-Dinheiro os mesmos poderes de vida que o deus-Sol.

Tudo para nós é o dinheiro. Nada mais natural, repetimos, porque foi o que aprendemos. Sem ele, nada fazemos. Até a nossa probidade depende do maior padrão de vida que pudermos exibir. Como considerarmos suspeita uma pessoa que reside numa mansão e possui três ou quatro carros importados e do ano? (Quando, na verdade, pessoas assim deveriam ser as primeiras a serem consideradas sob suspeição, já que “todo rico é ladrão”, segundo professava um santo cujo nome não lembro).

É tudo tão natural que nada mais nos surpreende. A primeira coisa que os políticos fazem quando são eleitos é defender projetos/leis que lhes tragam vantagens. Como a questão do aumento do próprio salário. E ninguém reclama. Já estamos habituados. Como estamos habituados com o fato de os políticos não defenderem projetos/leis que beneficiem as pessoas que os elegeram. Essa é a razão de ruas cada vez mais cheias de carros, com todos levando cada vez mais tempo para chegar de casa ao trabalho e vice-versa; de crianças sem escola ou sem ensino público de qualidade; de muitos adultos sem terem onde morar com dignidade; de hospitais públicos desaparelhados e desacreditados; de uma corrupção cada vez maior no meio policial e até entre militares e juízes – enfim de um Desgoverno ou de um governo de faz de conta!

Mas aí o noticiário nos acena com uma taxa de crescimento anual situando-se entre 4 e 7%. E ficamos contentes. Porque nenhum país da América Central ou do Sul ou da África desassistida conseguiu se aproximar desse índice.

O anúncio chega perto do Natal, quando estamos mais preocupados com os presentes que devemos comprar – e só compra quem pode –, ou do Carnaval, quando nos preocupamos com a terrível monotonia do desfile das Escolas de Samba. Que, apesar de tudo, nos revela a beleza estonteante da mulher brasileira ou a possibilidade de uns dias de férias em alguma praia ou em algum lugar da região serrana – também só para quem tem dinheiro.

Rio, 15/12/2010

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 15/12/2010
Código do texto: T2673909
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