Metade

Às vezes a gente conhece pessoas que têm a capacidade de mudar nossas vidas de uma maneira incrível. Muitas vezes a gente deixa essas pessoas passarem por nós, despercebidas.

Sabe quando a vida coloca alguém em seu caminho, quase como mágica? Quando você começa a se envolver de uma forma inimaginável? Sabe quando você consegue reconhecer cada forma de olhar desta pessoa, de um jeito que nunca conseguiu antes? Sabe quando o tempo para, quando vocês estão juntos, mesmo sem falar nada? Parece mesmo a união de duas metades.

Quando sua paz e seu tormento ocupam o mesmo corpo, quando você prefere estar por perto, mesmo sabendo que ele(a) está longe de você; quando você consegue, enfim, descobrir uma força superior, uma forma diferente de conquista, um jeito diferente de olhar as estrelas...

Sabe quando você sente uma falta enorme de alguém que ainda está por perto? Quando você sente ciúmes, mas ainda assim consegue se conter, consegue entender que isso é uma coisa banal, que é só metade.

Sabe quando você tem uma certeza quase que absoluta de que o sentimento está ali, que o amor está ali; você não quer deixar escapar, mas se vê de pés e mãos atadas; você sente que existe uma verdade nisto, vê que as tentativas de escapar não são por sua culpa. Sabe quando Deus te ensina a ter paciência? Eu não consigo ver isto de outra forma! Sim, paciência é a palavra.

Sabe quando você decide pelo tudo ou nada, mas não consegue chegar nem no tudo, em no nada? Está na metade do caminho. Sabe quando você sente uma paz e uma felicidade muito grande em algum momento, e depois perde essa paz? Sabe quando Deus te diz um NÃO em alto e bom tom, mas te sopra ao ouvido: "calma, que o sim vem daqui a pouco".

Sabe quando existe uma sintonia tão incrível que você parece estar sempre na janela na hora certa (ou errada)? Sabe o que é dormir e acordar sentindo uma infinidade de sentimentos contraditórios?

Sabe o que é perceber que a paz e a felicidade acabaram para duas pessoas, no mesmo e infeliz instante? É nestas horas que a gente percebe que existiu sim uma reciprocidade. A vida era melhor, agora está insossa. O céu era mais azul e agora está carregado de tempestade. Era o inteiro e agora, só duas metades.

Sabe quando você não consegue tocar em frente? Pois é, isso é muito, mas muito diferente, e mesmo assim, ainda é a metade. Viver um sentimento pela metade é sempre muito ingrato. Você se sente meio feliz hoje? Ora, como pode se jogar em meio sentimento? Metade nunca é inteiro e, portanto, nunca é completo.

Você ama seu namorado (a) mais ou menos? Você gosta mais ou menos de comer meio queijo de cabra holandês, tomando metade de uma dose de um vinho chileno, mais ou menos saboroso? Então você aproveita metade da sua vida, enquanto joga a outra metade fora vivendo sentimentos incompletos.

Como você consegue ser alguém pela metade, companheiro (a)? Hora ama o corpo, hora ama o espírito... então nunca é amor, porque amor é o inteiro, uma pessoa é sempre metade quando está sozinha, mesmo estando acompanhada.

Metade é muita ingratidão! Você fica meio envolvido com alguém, e quando escutam juntos aquela canção que tem um pouco a ver com a história de vocês, fica meio emocionado. Hahahaha, da vontade de rir, gargalhar, dessa metade!

Metade nunca sacia. Você nunca fica satisfeito por comer meio prato de comida, metade de um bife e metade de uma colher de arroz. Amar pela metade é como fazer dieta de sentimentos, só que na dieta original perdemos peso, gordura, e tudo mais que não nos faz falta. Na dieta de sentimentos perdemos o tempo.

O tempo sim, este é completo e sábio. É inteiro. O tempo é meu aliado e também meu maior inimigo! Paga minhas contas, me ensina a viver, me faz amadurecer, mas ainda assim, não me completa. Eu sou metade de uma felicidade inteira.

Como é chato ser só metade, parar no meio do caminho e se perguntar quando haverá o inteiro? Quando saboreará a taça inteira de um bom Cabernet Sauvignon? Quando vai se doar por inteiro a uma causa? Quando será prática e teoria, música e melodia, prato cheio de saudades, suspiros, beijos, abraços, estrelas... amor.

É, meu caro leitor, a gente só sente a felicidade verdadeira quando decide deixar de ser metade. Só a metade não sacia, não mata a fome de viver!

Anja do tempo
Enviado por Anja do tempo em 17/12/2010
Reeditado em 20/12/2010
Código do texto: T2676933
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