Um dia como outro qualquer

Confusão, balbúrdia, esquecimentos, stress e tentações de ofertas. Época de paz! Votos são votos, parecem dizer as mensagens de propaganda; não importa se para eleger alguém ou se para desejar felicidade: precisam ser comprados para que tenham valor.

É natal, mas pode ser Natal.

Presentear é uma forma simbólica de dar-se, de desejar o bem. É um exercício de empatia, de colocar-se na alma do outro, nas aspirações do outro e tentar satisfazê-las. Um presente deve ser isso: sentir-se presenteado pelo presente que se dá. Há uma troca nisso, mas não um toma lá dá cá. É preencher-se um pouco pelo espaço tomado da outra pessoa. E isso não pode ser comprado, embora possa haver dinheiro na aquisição do presente material que acompanha o desejo de deixar mais feliz – e normalmente há, e isso não lhe tira a importância – o que realmente se presenteia é o sentimento.

Estar junto é uma bênção, mas precisa haver desculpas mil para que isso aconteça? Precisa ser Natal e sorrirmos para quem não gostamos e abraçar quem nos fez tanta falta? Refeição é um ato de amor, uma oração, mas precisa ser Natal para compartilharmos as dádivas da Mãe Terra? Para que uma desculpa para sermos “companheiros” (con panes)?

A celebração do Natal cristão iniciou no Século IV; antes disso a Páscoa era o principal feriado. A escolha da data (de meados de dezembro a início de janeiro) não foi aleatória, mas muito inteligente, usando uma simbologia já existente: os romanos festejavam a saturnália e os germanos e celtas o solstício de inverno, coincidindo com a noite mais longa do ano e, por conseguinte, o amanhecer de um recomeço em que a luz começava a tomar o lugar das trevas. A data para os festejos do nascimento de Jesus como luz do mundo era perfeita, portanto, e assim foi estabelecido.

Era um dia como outro qualquer, transformado em data especial pela simbologia a ele presenteada.

Então é Natal, um dia como outro qualquer, tantas vezes olvidado em seu simbolismo, mas que pode ser especial se nos voltarmos ao nosso destino e, como Filhos da Terra, celebrarmos o nascimento da dádiva a cada dia para que todos sejam especiais.