Um São João que se aproxima...

Desde tenra idade, as festas juninas sempre me fascinaram. Embora o carioca seja um apaixonado por carnaval - a festa da carne - autêntica manifestação da vox populi, o São João possui um charme típico de quem resgata, sobremaneira nas grandes urbes, um pouco do interior, matuto e altaneiro: as roupas são trapos novos, salpicos de alegria; os chapéus parecem feitos com a palha da manjedoura; os bigodes, a enfeitar as faces imberbes, dignificam a hombridade almejada de um ainda menino-homem; as saias rodadas e multicoloridas contrastam com a aspereza do asfalto enegrecido que não consegue substituir os terreiros de roça, não contaminados pelas mazelas sociais.

Há são joões inesquecíveis que se vão longe: como o do primeiro beijo escondido, ao ser fisgado pela ex-admiradora secreta - obra lúdica de um Eros, personificado de carteiro, ao nos entregar um lírico bilhete do correio-do-amor. Como esquecer as cadeias do arraial, divinas celas de prisão consentida por se cometer um crime imaginário, jamais motivado por alguma ação violenta.

As festas dos santos juninos deixaram-se fenecer ou fomos nós que assassinamos sua essência pueril? Assumimos definitivamente a aridez intelectual citadina ou não cremos mais em sua pureza redentora? Escondemo-nos em casulos estéreis ou não compreendemos mais o belo encanto das noites frias e suas fogueiras acolhedoras?

Seja como for, nesse São João - São João mesmo - uma nova estrela, a Estrela Luísa, da Constelação das Marias, brilha no céu da minha noite, e novamente eu visto a fantasia costurada, o chapéu de palha amarelada e pinto meu rosto envelhecido com os matizes dos meninos renascidos. Recebo, hoje, no São João que me redime, o beijo da felicidade paterna. Não me sinto preso: sou uma casa sem paredes, janelas suspensas que se abrem para receber a luz divinal.

Seja bem-vinda, minha Estrela de Luz, formemos nossa quadrilha e dancemos ao som das sanfonas dos anjos da paz.

Anarriê, minha filha!